Em 2013, o investimento externo foi de 56 mil milhões de dólares. Este ano, a taxa de crescimento da economia africana no seu conjunto deverá superar os seis por cento
Em 2013, o investimento externo foi de 56 mil milhões de dólares. Este ano, a taxa de crescimento da economia africana no seu conjunto deverá superar os seis por centoHá escolas atacadas por islamitas na Nigéria, ébola na Guiné-Conacri e guerra tribal no Sudão do Sul, mas num continente tão grande como três Chinas, multiplicam-se também as notícias positivas, como a boa governação em Cabo Verde, o sucesso das eleições multirraciais na África do Sul, o crescimento económico angolano ou a erradicação da malária pela Suazilândia. E isso ajuda aos negócios. Em 2013, o investimento externo foi de 56 mil milhões de dólares. Este ano, a taxa de crescimento da economia africana no seu conjunto deverá superar os seis por cento. No início de abril foi a União Europeia a acolher em Bruxelas uma cimeira com África. E em agosto será a vez de os Estados Unidos da américa promoverem em Washington uma reunião do género entre o Presidente Barack Obama e os líderes africanos (estão 47 convidados). No ano passado, pouco tempo depois de tomar posse como número um da China, tinha sido Xi Jinping a escolher a República Democrática do Congo, a Tanzânia e a África do Sul como destinos de uma viagem. É óbvio que os três grandes blocos político-económicos veem hoje África como uma prioridade e, ao contrário de épocas passadas, não é para fazerem jogos geopolíticos, acorrerem a guerras civis ou fomes, mas sim para responder às necessidades de investimento de um continente que vai crescer 6,1 por cento em 2014 e na mesma ordem de grandeza no próximo ano. Taxas de crescimento económico que batem a europeia (previsão de um a dois por cento) e americana (dois a três por cento) e que se ficam aquém da chinesa (sete a oito por cento), mesmo assim há países africanos a fazer melhor. Nas primeiras páginas dos grandes jornais internacionais continuam a ser mais frequentes as tragédias africanas, como o terrorismo islamita no Mali, o ébola na Guiné-Conacri, a guerra entre cristãos e muçulmanos na República Centro-africana, o rapto de meninas no norte da Nigéria ou o conflito tribal no Sudão do Sul. Mas nas páginas interiores é possível descobrir histórias positivas, como a Suazilândia estar prestes a erradicar o paludismo, a África do Sul organizar com sucesso as suas quintas eleições multirraciais, Cabo Verde e Botswana surgirem como exemplos de boa governação ou angola constar entre os países do mundo que mais se desenvolveram na última década. Porém, começam a evitar-se as generalizações sobre um continente com cerca de 1100 milhões de pessoas e mais de 50 Estados independentes. E as oportunidades de negócio são para aqueles que primeiro perceberem que, por exemplo, um conflito no Corno de África não afeta as possibilidades de investir na África austral. É o caso de um empresário chamado Jan Kulczyck, que a revista Forbes’ aponta como o homem mais rico da Polónia. O grande país da Europa Central viu nascer Joseph Conrad, o autor de Coração das Trevas’, o famoso livro sobre o Congo, e também foi a pátria de Rysczyard Kapuscinski, repórter célebre pela biografia do último imperador etíope, mas mesmo assim não é o mais óbvio participante numa corrida às oportunidades em África. Mas Kulczyck aproveita a falta de passado colonial da Polónia, como o fazem também os chineses, para vencer tradicionais desconfianças dos africanos e assim tornou-se já dono de minas de ouro na Namíbia, de fábricas de fertilizantes na Nigéria e de campos de gás na Tanzânia. E vale a pena notar esta frase que disse ao Financial Times’: África é um continente de pessoas pobres e países ricos com uma enorme riqueza escondida por causa da falta de infraestruturas. Mas na Europa temos países pobres [com poucos recursos naturais] e pessoas ricas… é daquelas situações em que todos ficam a ganhar. No ano passado, o investimento externo no conjunto dos países africanos atingiu os 56 mil milhões de dólares, segundo a Reuters. a África do Sul, motor económico do continente (apesar de ultrapassado agora em termos de Produto Interno Bruto pela ultrapopulosa Nigéria), recebeu a maior fatia, mas o lusófono Moçambique conseguiu entrar no pódio, ao captar sete mil milhões de investimentos. Foram, além dos vizinhos sul-africanos, sobretudo os brasileiros da Vale e os italianos da ENI a apostar na antiga colónia portuguesa do Índico, mas os empresários portugueses também andam por lá, à imagem do que sucede em angola, onde desde os sumos Compal aos hotéis Pestana, as marcas portuguesas fazem questão de afirmar-se. Outro lugar comum a desfazer é que só as indústrias extrativas (minério e petróleo) levam investimentos a África.com 300 milhões de pessoas a constituírem a classe média africana isso já não é verdade. as empresas de telecomunicações, incluindo a portuguesa PT, podem bem testemunhar isso. É que se calcula que existam 800 milhões de telemóveis em África (a fotografia vencedora do último World Press Photo mostra emigrantes no Djibuti a erguer o telemóvel para captar rede das operadoras somalis, com fama de serem as mais baratas). Outro sector em expansão são os centro comerciais que os sul-africanos andam a construir pelo continente. Ou as linhas ferroviárias financiadas pela China como a que agora está a avançar no Quénia. São os países que mostram maior estabilidade governativa, legislação adequada e ausência de guerras que mais estão em condições de beneficiar da competição entre europeus, americanos e chineses (e por que não acrescentar indianos e japoneses?) pelas oportunidades em África. E essa competição até traz benesses. Isto não é um jogo de soma zero. Isto não é a Guerra Fria. Temos um mercado global e se os países emergentes veem África como uma grande oportunidade, isso pode potencialmente ajudar os africanos, afirmou Obama, filho de uma americana e de um queniano, no ano passado, durante uma visita à África do Sul.