Os líderes e representantes de várias comunidades indígenas brasileiras participam num colóquio internacional para dar a conhecer as suas formas de luta pela posse da terra e tentar novas alianças contra os ataques de que têm sido alvo
Os líderes e representantes de várias comunidades indígenas brasileiras participam num colóquio internacional para dar a conhecer as suas formas de luta pela posse da terra e tentar novas alianças contra os ataques de que têm sido alvo É um encontro inédito em Portugal e raro na Europa. Durante dois dias, os líderes e representantes de sete povos indígenas do Brasil estão reunidos em Coimbra, a convite do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, para darem a conhecer o momento difícil que atravessam as comunidades índias e angariarem novos apoios na luta que travam há décadas pelo direito à terra e à diferença. Estamos a viver um ataque global em todo o continente latino americano e é muito importante que as lideranças indígenas do Brasil saibam que não estão sozinhas, que têm aliados, como nós, ou os povos indígenas de outros países do continente que estão a sofrer os mesmos problemas, explicou à Fátima Missionária o diretor do CES, Boaventura Sousa Santos. Para o sociólogo, este ataque decorre, fundamentalmente, porque o capitalismo de hoje, na continuidade do colonialismo, está cada vez mais ávido de terra.com a agravante de se estar a promover o extrativismo com uma intensidade sem precedentes e do capitalismo estar cada vez mais organizado, a nível internacional, o que lhes dá um grande poder sobre os governos, sobretudo devido à tendência de privatização dos serviços públicos, de educação, segurança social ou saúde. Os povos indígenas estão a ser muito golpeados, atacados, massacrados, e há líderes indígenas a serem mortos no Brasil, com uma grande complacência do governo. Por outro lado, vive-se uma fase de retrocesso, com as vitórias das últimas décadas a serem postas em causa. É muito importante lutar para manter os direitos, mas continuar a avançar para mais reconhecimento de terras, porque a melhor defesa é o ataque. Se os governos não forem pressionados pelos movimentos sociais, põem-se facilmente ao serviço do capital internacional, que tem naturalmente alianças com as elites locais, como é o caso do Brasil, adiantou Boaventura Sousa Santos. a terra é nossa mãe, sem terra não somos nada. Podemos perder a nossa vida, mas a vida da natureza não podemos deixar perder, afirmou Jacir José de Souza, líder do povo Macuxi, recordando que o governo brasileiro mantém 314 terras indígenas por demarcar e que existem várias propostas de lei em debate no Congresso, que podem comprometer os direitos dos povos indígenas.