Uma campanha de vacinação ambiciosa realizada em Moçambique, leva um missionário da Consolata a reflectir sobre este país e as pessoas que aí­ vivem.
Uma campanha de vacinação ambiciosa realizada em Moçambique, leva um missionário da Consolata a reflectir sobre este país e as pessoas que aí­ vivem. Terminou na semana passada uma campanha de vacinações que se realizou em duas fases, esta teve a duração de dois meses e custou mais de 10 milhões de dólares. Esta campanha incluía a vacina para o Sarampo, a Poliomielite e um suplemento de Vitamina a. Destinava-se a crianças dos 0 aos 14 anos.como tudo neste país esta campanha foi financiada pela UNICEF (Fundo das Nações Unidas para as Crianças) e outros doadores estrangeiros.
Nesta campanha previa-se a vacinação de 9 milhões de crianças, 4 milhões das quais na zona sul do país (Inhambane, Gaza e Maputo). Tendo em consideração que o último recenseamento contou 18 milhões de habitantes em Moçambique, metade da população do país não ultrapassa os 14 anos de idade. Facilmente se compreendem as dificuldades de índole social, económica e política que o país atravessa.
Durante o desenrolar das vacinações foram surgindo algumas notícias interessantes. Um pouco por todo o país foi digno de nota a grande afluência de agregados familiares aos pontos designados para as vacinações.como não poderia deixar de ser, algo a que já estamos habituados, notou-se a irresponsabilidade e o desleixo dos responsáveis. Outra nota característica é o eterno atraso.
Os responsáveis pela campanha, um pouco por todo o lado, fizeram-se notar pelo hábito de chegar somente depois do povinho ter esperado umas horas.como eram eles quem traziam as vacinas, então nada a fazer o povo tinha mesmo que esperar. Parece que aqui em Moçambique só é importante quem consegue faz os outros esperar, a importância da personalidade é proporcionalmente equivalente ao período de espera. Há já quem diga que aqui em Moçambique com o atrasa hoje, atrasa amanhã, o país já está atrasado alguns séculos.
Outra nota característica foi a falta de material auxiliar, como podem ser mesas, cadeiras, etc. até parece que se a tarefa não for difícil ou quase impossível de realizar não dá gosto. Certamente há uma predilecção pela hard way (modo mais difícil).
Porém a notícia mais impressionante e que me chocou foi a oposição de algumas seitas a esta campanha de vacinações. Os membros de uma seita afirmaram que não precisavam de médicos, nem de medicamentos porque eles sempre foram curados pelos próprios pastores. Nalguns casos até abandonaram as povoações de maneira a que as suas crianças não fossem vacinadas.
Ora certamente cada um tem o direito a escolher em liberdade. Não deveria ser necessário, nem aceitável usar violência para obrigar as pessoas a fazer seja o que for, nisto estamos de acordo. Certamente todo o ser humano tem o direito à liberdade e a fazer as próprias escolhas, excluindo claro está quem tem problemas psicológicos de modo a não fazer mal a si mesmo ou aos outros – penso que também nisto estamos de acordo. Permitam-me porém contestar uma ideia que nestes tempos de globalização se está a difundir pelo nosso mundo. É comum afirmar-se que todas as religiões são iguais, desculpem mas não estou de acordo. Certamente há um único Deus, mas a nossa compreensão dele por vezes pode ser extremamente limitada e tendenciosa. Uma sugestão: visto que se proíbe o tabaco porque pode causar cancro, procuremos também proibir certas manifestações de tipo religioso (ou outro) que possam provocar loucura.