O desabafo de um missionário da Consolata que trabalha em Moçambique. O governo exerce repressão Política e o país parece estar a afastar-se da democracia. O crescimento do exército não é a solução.
O desabafo de um missionário da Consolata que trabalha em Moçambique. O governo exerce repressão Política e o país parece estar a afastar-se da democracia. O crescimento do exército não é a solução. Devo confessar que antes de escrever estas poucas linhas que se seguem pensei seriamente se seria o caso de o fazer.
O assunto que me ocupa (e preocupa), os factos de que estamos a ter conhecimento na província de Cabo Delgado. Pelo facto de ser no norte do país e distante da capital é uma província pobre, ainda que beneficiada pelo facto de ser a sede da faculdade de Turismo e Hotelaria, da Universidade Católica de Moçambique e estar na costa marítima, o que lhe dá a possibilidade de turismo.
Nesta província têm sucedido acontecimentos característicos e ao mesmo tempo paradigmáticos de uma falhada reconciliação com o passado. Tenho conhecimento de que se falou de uma manifestação de nudistas que há alguns meses aconteceu. Penso ter agora uma compreensão mais profunda deste gesto emblemático.
aquilo que aqueles senhores queriam mostrar de maneira gráfica era a sua sensação de serem plena e constantemente privados dos seus bens, sentem-se roubados pelo partido no poder. Manifestavam-se contra a fraude nas eleições.como não é novidade, e até os países que garantem o processo de paz e de democratização aceitam este estado de coisas, pensei não haver necessidade de comentar.
Porém, agora penso que este gesto exprimiu, talvez além da intenção dos participantes, uma situação mais profunda e mais grave. aquilo que a marcha dos nus na verdade exprimiu é a realidade da total expropriação da dignidade. De facto o partido da oposição, a Renamo, está a ser expropriada da própria dignidade e isto por factores externos, mas também internos, ao próprio partido.
O partido do governo desde a última vitória eleitoral tem intensificado as acções que tendem a humilhar e a desprezar os seus principais opositores políticos. Desde discursos na assembleia da República, que têm como único objectivo ridicularizar e insultar a pequena presença da oposição, até notícias tendenciosas nos meios de comunicação. Por exemplo, dizer que na é na Beira que há mais doentes de HIV-SIDa, quando fontes fidedignas afirmam que não é verdade.
Há muitos outros casos: a morte, no ano passado, de um considerável número de pessoas que a polícia fechou num contentor em Monte Puês; a prisão, com grande escândalo, dos guarda-costas do presidente da Renamo num dos aeroportos do país; a desmobilização, dentro do contexto da reorganização das forças armadas, dos militares que são favoráveis a este partido; a morte, no mês passado, de um dos guarda costas do presidente da Renamo – certamente a policia afirmou que era um delinquente, mas esta foi sempre a definição que a Frelimo aplicou à oposição política.
Por fim, e mais graves, os tumultos que se têm verificado nesta zona do país com mortos, feridos, saques e destruição de casas. Há a impressão que o presidente Guebuza, que ganhou as eleições, nem ganhar sabe. Um partido com 80 por cento dos assentos no governo com estas atitudes assemelha-se a um elefante que anda aos saltos para esmagar uma barata que nem consegue ver.como sempre quem sofre é o capim, neste casos as pessoas simples.
Mas há também uma acção degradante ao interno do próprio partido Renamo. Este partido foi o grande vencedor da guerra civil. afirmava e defendia que em Moçambique era necessária a democracia e agora, depois de trinta anos de obtusidade, incompetência e estupidez do seu opositor político, não sabe jogar segundo as regras do jogo que sempre desejou.
a Renamo deveria ser um exemplo de comportamento democrático, porque foi o partido que sempre quis, lutou e defendeu a democracia. No entanto deixa-se levar pelo jogo sujo daqueles que mudaram de casaco e agora dizem ser democráticos.
Nesta situação aquilo que me preocupa é uma notícia que li há uns tempos nos jornais Moçambique vai ter novamente um exército que mete medo. Pessoalmente já me mete medo neste momento, sobretudo porque desconfio um pouco das cabeças (será que na verdade as há) que comandam estas armas.
Sobre este assunto poderíamos dizer muitas mais coisas, mas quero somente terminar com um pedido a todos os benfeitores que ajudam este país. Não mandem dinheiro para armas. aqui é necessário melhorar a educação e a saúde. Mandem livros e medicamentos. Certos brinquedos não são indicados nem próprios para as crianças, é muito melhor nem os oferecer.