Era a cerimónia de abertura das conferências sobre o alcoolismo. Na mesa de honra, altas personalidades da Saúde, da Educação e um senhor que tinha de escolaridade a 4º classe, feita há seis décadas, quando tinha 12 anos
Era a cerimónia de abertura das conferências sobre o alcoolismo. Na mesa de honra, altas personalidades da Saúde, da Educação e um senhor que tinha de escolaridade a 4º classe, feita há seis décadas, quando tinha 12 anosQuem o conhecia, não estranhava vê-lo na mesa de honra. Era o Jaime!. após os discursos das várias entidades, é anunciado um momento-surpresa. Ouve-se: – Senhor Jaime, pedia-lhe que se levantasse. O homem, com o seu ar doce de avôzinho, surpreso e atrapalhado, levantou-se e aguardou. ao microfone, o organizador do evento continuava:- É com muita honra que hoje temos o prazer de o homenagear pelo valioso contributo que, ao longo de 35 anos oferece às pessoas que sofrem de alcoolismo e às suas famíliasEntre cumprimentos foi-lhe entregue uma estatueta simbólica. Palmas, palmas, palmas, era a manifestação da assembleia entusiasmada, em consonância com o reconhecimento que lhe era feito pela sua vida e pelo trabalho realizado. Foi a vez do homenageado falar.com expressão serena e sorridente, como é seu jeito habitual, partilhou o seu sentir: – Meus amigos, aceito com humildade a referência ao trabalho que, com tantos outros amigos, tenho tido o prazer de realizar. Tudo o que fizemos, foi feito com amor. Não tem sido um trabalho, tem sido um prazer.como alguns saberão, fui um grande consumidor de álcool. Perdi tudo: família, amigos, trabalho, até a minha identidade. Nesse tempo, era como se não existisse. Mas o amor reabilitou-me. O amor e a fé. Quando sentia que nada valia, fui amado. Cuidaram de mim quando eu próprio me rejeitava. Senti que foi Deus que me acolheu e que me convidou a trabalhar num projeto novo: ir ao encontro de quem sofre com o problema do álcool. a todos os que aceitam o meu trabalho, o meu muito obrigado! Tenho crescido muito com todos. Por causa dos que me aceitam, hoje sou uma pessoa melhor. Quando entro em casa de alguém, o que pretendo levar não é só uma proposta de tratamento. É uma proposta de amor que lhes apresento, onde o tratamento é uma das partes. Uma pessoa que se sente destruída é uma pessoa a precisar de amor e de acreditar que não foi esquecida; que existe alguém que a ama e lhe dá condições para vencer o que a derruba. Eu sou só um mensageiro desse convite. Todos os dias, Maria ajuda-me a dizer sim’ a este projeto.como poderia eu não me envolver? Muito obrigado a todos pelo vosso carinho!Com aquele sorriso terno, Jaime inclinou-se num agradecimento quase envergonhado. Regressouà mesa mas não pôde sentar-se porque a assembleia, de pé, aclamava agradecida a este homem humilde e grandioso que falava do amor, da fé, do valor de quem está caído, da esperança que o encontro faz renascer e da realização sentida quando nos atrevemos a dizer sim a um projeto onde Deus e Maria nos tomam como parceiros.