as comemorações dos 40 anos do 25 de abril trouxeram a lume as discordâncias existentes entre os representantes dos que participaram do golpe de estado, governantes e outras personalidades, sobretudo de esquerda
as comemorações dos 40 anos do 25 de abril trouxeram a lume as discordâncias existentes entre os representantes dos que participaram do golpe de estado, governantes e outras personalidades, sobretudo de esquerda a resposta a esta questão poderia ser simples, mas não o é porque se torna necessário lembrar o que vigorava anteriormente, ou seja, o Estado Novo que se regia por aquilo que poderemos designar como Deus, Pátria e Família. No entanto esta trilogia era um embuste na prática, tratando-se de uma forma em que assentava o domínio político, e efetivo, das massas.

Um regime político que impunha o seu poder de forma concertada, mas que favorecia os poderosos – aliados deste sistema – permitindo assim a sua manutenção e continuidade. Os valores morais de que o regime se ufanava eram o pilar exterior para a concretização da sua política. Os fundamentos da ditadura de Oliveira Salazar passavam pelas forças armadas, polícias, censura e a complacência da Igreja, enquanto hierarquia e parte do clero, mas não a sua totalidade. O caso do bispo do Porto é sintomático.

Não é possível falar do levantamento do 25 de abril sem lembrar o que lhe deu origem. O descontentamento popular era evidente com a pobreza, a guerra colonial, para além das imposições daqueles que governavam. a emigração e a guerra colonial marcaram o país e as pessoas ansiavam por algo que mudasse a situação.

Mas ironia das ironias, a sublevação do exército tem origem em motivos e razões corporativas. a guerra colonial permitiu que uma parte dos oficiais oriundos da academia Militar fossem a África ainda como aspirantes, lá eram promovidos a alferes e regressados ao continente subiam ao posto imediato de tenente. Mobilizados novamente partiam para qualquer das frentes de batalha nas colónias já com o posto de comando, neste caso capitão. Isso gerou um movimento interno de outros oficiais do quadro permanente e daí à revolução foi um passo.

a população acabou por receber bem o movimento que derrubou o governo de então. O Estado Novo permitia apenas um partido, a União Nacional, mas com os novos governantes foi possível legalizar partidos que existiam na clandestinidade, casos do Partido Comunista e Socialista, e ainda a permissão de novas forças partidárias.

a assembleia Constituinte de 1975 aprovou novo documento e marcou o fim da Constituição de 1933. a elaboração de uma nova Constituição de cariz socializante, ou como era afirmado a caminho do socialismo é a que chegou aos nossos dias, apesar de ter sofrido alterações pontuais. após a aprovação do documento constitucional do país vieram as primeiras eleições livres que tiveram lugar em 1975.

Chegados aqui temos que recordar quatro décadas de governação e analisar o progresso que se verificou no país, que foi um facto positivo em várias áreas da sociedade. Muita coisa mudou neste país desde a educação à saúde, passando pela liberdade das pessoas. a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia em 1985 é um passo importante para a economia do país, só que o aproveitamento continuado dos fundos de adesão não foram devidamente acautelados e o país acabou por não estar preparado para o embate do mercado comum europeu e baqueou. Portugal viveu mais de trinta anos em crescimento para depois entrar em colapso económico que se foi acentuando até aos nossos dias.

a pergunta que se põe agora é: temos razões para festejar o 25 de abril? atendendo à mudança operada no país, sim, sobretudo pelo espírito de democracia que este veio trazer. apesar disso há dois aspetos negativos a ter em conta: o apropriamento indevido da democracia por parte dos partidos políticos e a má qualidade dos políticos que os compõem. Os últimos governos permitiram um acentuar de desigualdades gritantes na sociedade portuguesa e as pessoas começam a questionar que tipo de democracia é esta que espezinha os mais fracos. É preciso que os nossos políticos façam uma reflexão e invertam caminho antes que seja tarde.