O drama de muitos, a sua morte e a austeridade terão sido em vão se a pobreza e as desigualdades se mantiverem
O drama de muitos, a sua morte e a austeridade terão sido em vão se a pobreza e as desigualdades se mantiveremOs dramáticos desequilíbrios a todos os níveis e o lixo social gerado por sistemas de governo neo-liberal, que mais do que apostar nas famílias e na construção de comunidades locais, desejaram tornar tudo e todos imunes à diversidade, ou à interdependência que caracteriza a natureza de tudo quanto existe, levaram e continuam ainda a levar às ruas milhares de pessoas que se sentem terrivelmente maltratadas e violadas nos seus direitos e deveres. Temo que diante da ilusão de uma economia que parece dar sinais positivos de si, os inúmeros tempos de antena, artigos de jornal, seminários e workshops não tenham sido capazes, no final, de inaugurar um novo tempo, com novos paradigmas, capazes de colocar no centro de toda a governação o ser humano, o seu incondicional valor e dignidade para lá da economia, e os valores da liberdade, do trabalho, da habitação, da saúde, da proteção social, da educação e tantos outros, pelos quais o 25 de abril de 1974, em Portugal, se tornou uma revolução urgente e necessária. Se há 40 anos foi imprescindível dizer não ao fascismo e defender a vontade popular, o exercício da liberdade e a democracia, hoje, diante de um total desrespeito pelos valores de abril, urge, por um lado, dizer não às partidocracias, aos parlamentos sem povo, aos interesses de famílias e grupos instalados no serviço público, e por outro, recuperar e proteger o acesso a direitos e deveres básicos através de uma educação para a cidadania e cooperação, e de uma mais justa distribuição da riqueza que não encontrem nunca mais no empobrecimento, no desemprego, na perda de casa, da família, da comunidade, no abandono e na exclusão social, as criaturas humanas que habitualmente os colocam em risco e os violam.com o passado compreendemos o presente. Se até ontem, com um Estado essencialmente Providente, a vida ainda assim, sem comunidades estruturadas e fortes, era possível, hoje, a defesa de um Estado mais reduzido ou pequeno, e esvaziado de importantes funções sociais, sem que possa fazer apelo, no terreno, a comunidades robustas e inclusivas, tornariam a vida e o projeto de cada um muito difícil senão mesmo impossível. Os valores de abril, o que, pelo fazer da história, também hoje valorizamos, nomeadamente a sustentabilidade de uma nação como Portugal, precisam de um Estado infatigável e de comunidades da sociedade civil possantes, imbuídas de consciência política e práticas de cidadania.