Foi o Papa Francisco que o recordou durante a missa a que presidiu na tarde de 17 de abril, quinta-feira santa, no centro Santa Maria da Providência, em Roma. O serviço aos outros deve ser o nosso selo da fé
Foi o Papa Francisco que o recordou durante a missa a que presidiu na tarde de 17 de abril, quinta-feira santa, no centro Santa Maria da Providência, em Roma. O serviço aos outros deve ser o nosso selo da fé a cerimónia do lava-pés, cujo ritual é feito em quinta-feira santa, relembra a Última Ceia e o gesto de Jesus de lavar os pés dos doze apóstolos e portanto tem uma carga simbólica que nos deve fazer meditar. Francisco escolheu um centro para deficientes, a Fundação Dom Gnochhi, em Roma, para celebrar com eles este gesto. Eram oito homens e quatro mulheres entre os 16 e 86 anos, nove italianos e três estrangeiros, um dos quais de fé muçulmana. ajoelhou-se perante eles e, com ternura, verteu água em um pé de cada um deles e os lavou, secou e beijou. Um gesto que o próprio Papa Francisco explicou na breve homilia improvisada:É um gesto de despedida. É a herança que nos deixa. Ele é Deus e fez-se servo, nosso servidor. E a herança é esta: também vós deveis ser servos uns dos outros. Ele percorreu esta estrada por amor: também vós deveis amar-vos e ser servidores no amor.

Esta mensagem, de que devemos ser servidores uns dos outros. não é exclusivamente destinada aos cristãos, mas a todas as pessoas de boa vontade, independentemente de serem crentes ou não. O amor aos outros deve fazer parte intrínseca das nossas vidas, pois sem ele esta não terá o seu verdadeiro sentido.

Cristo, sendo Deus, fez-se Homem e assim viveu durante 33 anos, tempo necessário para deixar o testemunho que chegou aos nossos dias: deu a sua Vida para salvar a humanidade, por amor a cada um de nós. Os seus ensinamentos, que hoje a Igreja nos transmite, resumem-se em poucas palavras, ou antes, uma basta para o fazer: amor.

O ser humano nasce, vive e um dia também morrerá, nunca sabendo (em circunstâncias normais) quando será esse dia. a história de vida repete-se permanentemente para todo o ser vivente, e a única coisa que fica para além da vida é o amor que nós fomos, ou não, capazes de dar aos outros. a morte humana pode ser porta de abertura para uma nova vida ou um final sem ela. a diferença está na persistência na fé. É um risco para o qual São Tiago já havia acenado dois mil anos atrás e é clara: a fé que não dá fruto nas obras não é fé. a herança de Cristo baseia-se em dois mandamentos que se complementam: amar a Deus sobre todas as coisas e as pessoas como a nós mesmo. Ou seja, é o amor total. a pergunta que fica é esta: será que o nosso coração está disposto a correr o risco da salvação?

Servir os outros é, sobretudo, uma questão de boa vontade. a fé é o fundamento do cristão para o conseguir melhor. Nos tempos que correm parece que as pessoas só têm disponibilidade para resolver os seus problemas, esquecendo que os outros também lutam, e por vezes com imensas dificuldades, para resolver os seus, quantas vezes sem êxito.

Servir os outros pode ser feito de muitas formas e cabe a cada um de nós encontrar o caminho certo para o fazer. Uns podem fazê-lo através da doação de bens materiais, outros dando o seu trabalho voluntário, a sua colaboração, em prol dos mais carentes, mas se tivermos espírito de boa vontade não será difícil saber como o fazer. Cristo serviu-nos a todos gratuitamente e por amor. Será que esse exemplo não irá marcar o que resta da nossa vida? Que o Cristo Ressuscitado nos ilumine.