«Se a abstenção cresce não seria de estabelecer o voto obrigatório, pelo menos nas legislativas?». a pergunta foi feita por Freitas do amaral, mas acrescentou que «os portugueses com direito ao voto deveriam ter de exercê-lo»
«Se a abstenção cresce não seria de estabelecer o voto obrigatório, pelo menos nas legislativas?». a pergunta foi feita por Freitas do amaral, mas acrescentou que «os portugueses com direito ao voto deveriam ter de exercê-lo»

a intervenção deste conhecido político, fundador do CDS, ex-candidato presidencial e ministro dos Negócios Estrangeiros num governo do PS, foi feita sexta-feira passada à margem dos trabalhos de uma conferência proferida na Covilhã. Freitas do amaral, um homem que dedicou grande parte da sua vida ao exercício da política, revela nesta afirmação um preconceito de antiliberdade, apesar de frisar que essa possível opção não tem nada de antidemocrática. Puro embuste!Como é evidente, as suas afirmações foram amplamente divulgadas pela imprensa, mas a maior parte absteve-se de reproduzir comentários, o que não é surpresa, apesar do melindre da ideia que o político fez passar.

Vamos por partes. Uma coisa é o cidadão dever exercer o seu direito cívico, outra será que este lhe seja imposto por lei. Nos países de regime ditatorial, que infelizmente ainda existem, isso é prática corrente, mas nos de cariz democrático tal não acontece. Por isso é que são regimes democráticos e não autoritários. Estranhamente, ou talvez não, Freitas do amaral contradiz-se e vai contra os seus próprios princípios que apregoou durante dezenas de anos, teremos que lhe dar algum desconto, pois é um político nato, pensa e age como tal, mas não devia. Sendo um político bem pensante, não pode descurar a realidade das coisas e muito menos aquelas que dizem respeito ao cidadão português.

a maior parte dos políticos, os portugueses não fogem à regra, perderam credibilidade pela forma como agem, utilizando demasiadas vezes a mentira, o que leva os cidadãos a absterem-se nas votações eleitorais. O desinteresse do cidadão está exatamente enquadrado neste contexto e, para combater a abstenção, não são precisas novas leis. É necessário que aqueles que exercem a política façam marcha atrás e recuperem a confiança dos eleitores. aqui é que está o cerne da questão e Diogo Freitas do amaral sabe-o, pois disse: Tendo em conta que a abstenção é, à partida, dos que estão descontentes, então fazê-los votar podia contribuir para que todos se responsabilizassem e, eventualmente, para que surgissem novos partidos, novas sugestões, novas alianças e portanto renovar o nosso sistema político.

Para justificar o possível uso do voto obrigatório, Freitas do amaral enunciou que acredita que os cadernos eleitorais estarão desatualizados e por isso entende que os níveis de abstenção não serão tão elevados como aqueles que são apresentados oficialmente. a afirmação é grave; deveria ser comprovada.

Esta personalidade afirma que o voto obrigatório poderia contribuir para inverter o crescente desinteresse que os cidadãos demonstram relativamente às decisões que definem o futuro do país. Permitiria eliminar a abstenção e fazer com que todos os cidadãos se sentissem igualmente conscientes de que o seu voto é decisivo para a orientação política do país. Por outro lado, contribuiria para aumentar a participação daqueles que se vão afastando, reduzindo ainda a taxa de abstenção com que Portugal surge nas estatísticas internacionais relativas ao interesse dos cidadãos pela política. Embora com alguma verdade, estas afirmações pecam pela base da proposta que é inaceitável.

Estes políticos parecem que não têm emenda, deles disse Marques Mendes no comentário semanal da SIC na semana passada: Estes governantes deviam ser politicamente presos. Referia-se aos cortes nas pensões, acrescentando que dois milhões de portugueses estão a ser constantemente assustados e a ser tratados quase como cobaias.

Não sabemos o significado que o comentador pretendia dar com esta de politicamente presos, mas não duvidamos que os políticos terão que mudar na sua atuação, ou então os portugueses vão continuar a abster-se e a não acreditar neles, o que é muito penalizador para todos nós.