a dimensão da vida e obra da vidente de Fátima «é comparável à das grandes mulheres» da História, mas a distância temporal e os preconceitos não têm permitido que lhe seja feito esse reconhecimento, considera o historiador Marco Daniel Duarte
a dimensão da vida e obra da vidente de Fátima «é comparável à das grandes mulheres» da História, mas a distância temporal e os preconceitos não têm permitido que lhe seja feito esse reconhecimento, considera o historiador Marco Daniel DuarteO segredo contido nas aparições da Virgem Maria aos três videntes da Cova da Iria gerou uma enorme expectativa e alimentou muito o tema de Fátima, mas não foi o principal impulsionador da romaria de fiéis a um local que hoje se transformou num dos principais altares do mundo. Se quisermos ser justos na análise, antes de se perceber que havia um segredo em Fátima, já muitas pessoas vinham à Cova da Iria, inclusivamente fotógrafos, o que demonstra que já havia interesse pelo que se estava aqui a passar, afirmou o historiador Marco Daniel Duarte, num jantar-conferência que se realizou na noite de quinta-feira, 27 de março, no Hotel Pax, em Fátima. Convidado a fazer uma abordagem histórico-cultural do segredo de Fátima, o diretor do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário de Fátima preparou uma viagem documental que começou nas primeiras imagens tiradas aos três videntes – Lúcia de Jesus, Jacinta e Francisco Marto -, em julho de 1917, passou pelos primeiros escritos da Irmã Lúcia, por excertos dos interrogatórios, pelo documento onde a religiosa revela a terceira parte do segredo, e terminou com a referência à divulgação dessa mensagem em Fátima, no ano 2000, e à publicação subsequente de um documento sobre as aparições, assinado pelo então cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. É um documento notável, quer sobre as aparições em sentido geral, quer sobre as aparições de Fátima, nomeadamente na questão relacionada com o segredo, explicou o historiador à margem da conferência, aconselhando os fiéis a explorarem mais a fundo o pensamento explanado por Ratzinger para reforçarem a sua fé. Na sua intervenção, Marco Daniel Duarte lamentou ainda que, por vezes, não seja reconhecida a verdadeira dimensão da vida e obra da Irmã Lúcia. Ou porque estamos demasiado perto do tempo que ela viveu, ou devido a alguns preconceitos ligados à história política e cultural do nosso país, não temos a verdadeira dimensão da importância que esta mulher teve dentro da Igreja Católica, e a tendência é desvalorizá-la, disse o historiador, recordando os feitos’ da vidente. Mesmo vivendo antes do Concílio Vaticano II, estando ligada a uma congregação religiosa, e portanto, numa ambiência de humildade e sujeita a uma hierarquia, ela escreveu a Papas e a bispos de todo o mundo. É uma mulher comparável às grandes mulheres que conhecemos, quer na Idade Média, quer na Idade Moderna.organizado pelo Museu de arte Sacra e Etnologia (MaSE), dos Missionários da Consolata, o jantar-conferência foi o primeiro de um ciclo que pretende levar a Fátima especialistas nas mais diversas áreas, relacionadas com a religião, missão e património. Segundo Gonçalo Cardoso, o objetivo destes encontros é também aliar a gastronomia à transmissão de conhecimento. a próxima edição, com data ainda por definir, terá como oradora a diretora do Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja, Sandra Costa Saldanha.