O Rococó espelha uma nova forma de relacionamento entre os membros das elites sociais, mais intimista e afastada da teatralidade áulica que pautou o Barroco
O Rococó espelha uma nova forma de relacionamento entre os membros das elites sociais, mais intimista e afastada da teatralidade áulica que pautou o BarrocoNo território português, como em tantos outros, as manifestações artísticas dos tempos mais vetustos, tal como as mais contemporâneas, corporizaram na matéria física a ambiência pessoal e coletiva que envolveu a sua idealização e concretização. Neste contexto, dum leque vasto de correntes e estilos artísticos que floresceram em Portugal, será interessante tentar perceber, ainda que de forma muito superficial, as matrizes identitárias do Barroco e do Rococó, vigentes no panorama europeu sobretudo nos séculos XVII e XVIII. O Barroco foi um estilo artístico que marcou a Época Moderna Europeia, tendo espelhado o desejo de afirmação política, social e religiosa das elites sociais em que floresceu. Pelas suas características emotivas, de opulência, de magnificência e de teatralidade rapidamente se afirmou no panorama cultural do antigo Regime, pois servia quer os interesses dos Estados absolutistas, quer o propósito da Igreja Católica, em ordem à doutrinação dos crentes num período de plena consolidação do protestantismo. Portugal assimilou os cânones do Barroco de forma tardia, mas tal facto não impediu uma produção artística de particular interesse, como por exemplo o Palácio-Convento de Mafra, o Santuário do Senhor Jesus dos Milagres, em Leiria, a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra e a talha dourada das Igrejas de Santa Clara e de São Francisco, no Porto, entre muitos outros. Por seu lado, o Rococó, enquanto estilo artístico, também refletiu o contexto social, religioso, económico e político do seu tempo. Sendo, muitas vezes, identificado como a fase final de um Barroco decadente e agonizante, a sua afirmação enquanto estilo autónomo e com características próprias tem sido morosa e difícil no meio da historiografia da arte. O Rococó espelha uma nova forma de relacionamento entre os membros das elites sociais, mais intimista e afastada da teatralidade áulica que pautou o Barroco. Fruto dessa nova forma de estar, a linguagem artística tornou-se, de um modo geral, menos pesada e mais graciosa e delicada e os espaços arquitetónicos, particularmente os privados, revelaram uma preferência por cenários mais intimistas. Em Portugal, pese embora a sua vigência tenha tido uma curta duração, existem bons exemplos da produção artística do Rococó, mormente o Palácio de Queluz, a Igreja de Santa Maria Madalena, na Falperra (Braga), a Casa do Raio, em Braga, e a talha dourada do Mosteiro de São Martinho de Tibães, apenas para referir alguns casos.