Cresci de lenço ao peito e foi com ele que apreendi o significado de partilha, persistência, coragem, humildade, prontidão, amar, dar? valores que ainda se mantêm e se reforçam
Cresci de lenço ao peito e foi com ele que apreendi o significado de partilha, persistência, coragem, humildade, prontidão, amar, dar? valores que ainda se mantêm e se reforçam Um dia, já na minha velhice e dona dos meus 90 anos, acompanhada possivelmente pelo chato do alzheimer, há três aspetos essenciais que eu espero, com a maior das forças, não me esquecer: da minha família, dos meus compinchas e da minha paixão pelo lenço. O escutismo é uma parte integral da minha identidade, aliás, se eu quisesse contar a história da minha curta vida, a melhor maneira para iniciá-la seria: Era uma vez uma lobita irrequieta que tudo queria aprender. Tudo começou em 1997, quando os caminhos pedestres por de trás da minha casa, começaram a ser ocupados pelos meninos de lenço verde e observados por uma pequena miúda mexida e curiosa de apenas seis anos que, todos os sábados, fazia a mesma pergunta à mãe: Eu também posso ter um lenço daqueles? e a resposta era sempre a mesma: Oh Cristiana, tu ainda és muito pequenina. Pequena ou não, a verdade é que, o desejo de ter um lenço e de aprender as músicas sonantes daqueles pequenos escuteiros nunca desapareceu, e eis que, em março de 1999, após um acontecimento menos bom, recebi a alegre notícia que iria ser escuteira. ainda hoje, a minha mãe recorda o brilho dos meus olhos que se encheram de lágrimas, após saber que um dia também eu teria um lenço ao pescoço. Foi numa tarde de sábado cheia de sol, acompanhada pela minha mãe, que lá fui até à Sede do agrupamento 1167 arrabal (Leiria), para ser apresentada aos meus novos colegas que, por sinal já todos tinham um belo lenço amarelo, e eu muito chateada disse logo: Oh mãe, esquecemo-nos do meu lenço! E eis o mote perfeito, para o arrancar da melhor escola que uma criança, adolescente, jovem e adultos podem ter. É inevitável não me rir quando penso na lobita estridente que só queria ser como a Baguera (grande Chefe Graça); na exploradora que de tanto fazer nós tortos, hoje é perita em fazer um nó direito; na pioneira que, junto da equipa Gandhi ,descobriu o poder da força de vontade e que o norte raramente é em frente e, por fim, agora já com um tom mais sério e nostálgico, é impossível esquecer a caminheira que, de lenço vermelho ao peito, e acompanhada por um grande Clã, encontrou nas pequenas coisas a forma de ser e fazer os outros felizes: estar sempre alerta para servir. Cresci de lenço ao peito e foi com ele que apreendi o significado de partilha, persistência, coragem, humildade, prontidão, amar, dar valores que ainda se mantêm e se reforçam ainda de lenço ao peito. No entanto, já não é um lenço vermelho ou verde-escuro mas sim um lenço azul claro, sinónimo do Movimento Fraternal Escotista. O segredo para que os preconceitos acabem, que as desigualdades diminuam e que os indivíduos se atrevam a não ter medo de lutar por um mundo melhor, reside na minha opinião, em movimentos como a aEP (associação Escotista de Portugal) e o CNE (Corpo Nacional de Escutas) que, ao longo destes anos, têm mostrado que os ideais de BP são mais que atuais e a necessidade de se estar sempre pronto, numa sociedade em mudança, é essencial para um mundo um pouco melhor.