Juliana transpôs de rompante a porta do gabinete da diretora do Centro da Mãe, uma instituição de apoio a mães solteiras, onde vivia há seis meses. atrás de si, a sua mãe, Glória, parecia viver o dia mais feliz da sua vida
Juliana transpôs de rompante a porta do gabinete da diretora do Centro da Mãe, uma instituição de apoio a mães solteiras, onde vivia há seis meses. atrás de si, a sua mãe, Glória, parecia viver o dia mais feliz da sua vida- Deram-me a Maria! Ela pode vir comigo já amanhã! a juíza deu-me mesmo a Maria! – É verdade, parece mentira. Graças a Deus! – confirmava Glória. Maria, no Centro de acolhimento para Crianças, ainda não sabia da feliz notícia. Desde há um ano, quando a separaram da sua mãe, Juliana, por esta não lhe prestar os cuidados necessários, era só isto que desejava: a sua mamã. Nos dias da visita, na hora de dizer adeus à mãe, Maria lançava-se-lhe ao pescoço e batia as pernitas com tanta força que ficava exausta, mas nunca deu resultado. E os seus dois anitos não lhe permitiam entender as razões de a mãe não a levar consigo. Juliana encontrava-se novamente grávida e não podia contar com a ajuda de nenhum dos pais das suas meninas. as promessas que ambos fizeram de construir uma família desfizeram-se quando lhes foi comunicada a gravidez. Juliana não conseguiria subsistir nem cuidar das suas filhas sozinha. Estava condenada a perdê-las por falta de condições. Contudo, no Centro da Mãe, tudo mudou. Reaproximou-se da sua família. Teve coragem para ultrapassar o muro da vergonha que a impedia de pedir a sua ajuda. Nem foi preciso pedir. Quando entrou receosa na casa dos pais, foi recebida com lágrimas e abraços. afinal, não a acusaram. Quanto desejaram que regressasse! a diretora do centro quis assegurar-se que o sonho de Juliana ia mesmo concretizar-se:- Dona Glória, tem a certeza que cabem todos lá em casa? Lembre-se que para além do seu marido e dos seus três filhos ainda tem a sua filha casada com o marido e dois netinhos. – Então não cabe, doutora?! até estarmos todos, nunca somos demais! Como podia eu gozar a minha casa sabendo que a minha filha não tinha onde dormir? a Juliana e as minhas netinhas estão a fazer falta para completar a família!- Mas lembro que a vossa casa só tem três quartos – insiste a diretora. – a casa não é pequena quando o coração é grande. Já fizemos um anexo. O quarto da Juliana já está preparado: tem a caminha dela e dois berços que eu pedi para a Maria e para a Isabelinha quando nascer. Juliana olhava a mãe. Nela via toda a família que não a julgava e lhe oferecia o teto, a cama, o abraço, o colo todo inteiro. amanhã, Maria vai adormecer no colo da sua mãe, sem medo que lha roubem. amanhã, Juliana vai aprender a ser uma boa mãe, com a ajuda de quem mais ama. amanhã, a família vai rir e enxugar as lágrimas em conjunto. amanhã nesta família todos terão pão e colo, porque aqui o amor ditou que todos não são demais.