a morte recente de Eusébio, jogador do Benfica, que representou a seleção de Portugal, refletiu a importância que o futebol tem a todos os níveis. a formação do ser humano pode e deve passar também por essa escola de vida
a morte recente de Eusébio, jogador do Benfica, que representou a seleção de Portugal, refletiu a importância que o futebol tem a todos os níveis. a formação do ser humano pode e deve passar também por essa escola de vida

São milhões de jovens – e menos jovens – que em todo o mundo têm os olhos postos em algum desportista famoso. O futebol tem sido das modalidades onde surgem mais ídolos, mas a verdade é que são seguidos e olhados como exemplo. Certamente que os leitores neste momento já se interrogaram: mas o futebol será alguma escola de virtudes, ou algo assim tão importante para estarmos a recordar este episódio de Eusébio. O que é que isso tem a ver com o evangelho?

Vamos por partes. O futebol enquanto negócio envolve milhões de euros incalculáveis, tem milhares de clubes por todo o mundo, organismos que o regulam e futebolistas a ganharem somas astronómicas. É mesmo um aproveitamento económico – com muito proveito – para muita gente. Mas é esse tipo de futebol que arrasta multidões e que permite a criação de autênticos mitos humanos que ficam na história. Não faltam exemplos atualmente: Cristiano Ronaldo (português), Messi (argentino, Ribery (francês), só para citar alguns dos mais destacados. Estes jogadores têm milhões de pessoas que os seguem e vibram com o seu trabalho, ou seja, eles são ícones.

Mas centremo-nos no desporto, mais concretamente no futebol, para avaliarmos a sua importância, mesmo para a formação dos jovens, rapazes ou raparigas. Em 1966 a igreja paroquial de Fátima tinha um jovem pároco, o padre Manuel antónio Henriques (já falecido), que funda um clube de futebol, com outros paroquianos, a que deu o nome de Centro Paroquial de Fátima, e que ainda hoje existe e está em competição oficial. Um dia tive oportunidade de o entrevistar e perguntei-lhe quais as ideia-base que estiveram subjacentes à fundação. Ele falou na sua missão de criar uma comunidade viva, dinâmica, solidária e fraterna – como uma autêntica família para o justificar.

O senhor prior, como era carinhosamente conhecido o padre Henriques, tinha por missão evangelizar e, por isso, lembrou: Para atingir esta meta havia que utilizar todos os ensinamentos aprendidos na escola de pastoral eclesial sem deixar de dar largas â criatividade e de lançar mão de todos os meios disponíveis e adequados mesmo que estivessem fora do campo específico da missão da Igreja. Todos reconhecemos quanto a cultura, o recreio e o desporto concorrem para a comunhão, a solidariedade, a fraternidade entre as pessoas gerando a unidade. Sintetizou assim o objetivo que tinha em vista: Pretendeu-se ocupar validamente os tempos livres da população de Fátima, especialmente os dos jovens, e criar condições para o crescimento da fraternidade entre todos.

Falamos de um sacerdote que viu, através da prática do futebol, a possibilidade de ocupar os jovens. Porém, a verdade é que para além disso, também forma e permite adquirir outras virtudes importantes como: o convívio, a amizade, a disciplina, a higiene e tantas outras. a prática desportiva permite uma mente sã em corpo são e é um aproveitamento saudável para o praticante, mas poderá ser ainda um complemento educacional, que não substitui o familiar, mas amplia.

Por este clube formado em 1966, o ano da glória de Eusébio no Mundial de Futebol, já passaram largos milhares de jovens que confirmam que o futebol é um incentivo para a formação de homens bons. O restante poderá surgir por acréscimo.

Queremos com isto alertar para esta constatação: o evangelho também pode ter vida fora da igreja e o futebol não é concorrente com os ideais cristãos. Pelo contrário poderá ser um meio para atingir esse fim. a provar isso, temos o nosso papa Francisco, também ele apreciador de futebol, e se quisermos um exemplo mais próximo, deixo-vos um gerado no clube de Fátima: o primeiro padre-jogador de futebol federado (a jogar em competições oficiais) em Portugal foi o padre antónio Martins em 1969 e que ainda está entre nós. No futebol nem tudo é mau: pode enobrecer quem o pratica, mas ser algo de benéfico para quem o aprecia.