«aprendi uma grande lição: percebi que tenho estado mais parado do que devia. Decidi que vou aprender a aparar sebes ou a limpar matas, sei fazer mudanças, eu sei lᔦ até sei levar crianças a atividades»
«aprendi uma grande lição: percebi que tenho estado mais parado do que devia. Decidi que vou aprender a aparar sebes ou a limpar matas, sei fazer mudanças, eu sei lᔦ até sei levar crianças a atividades»Simão sentou-se no banco do Instituto de Emprego à espera da sua vez. Nunca se imaginara nesta situação. atrás de si, um passado de alunos diferentes por quem lutou, enquanto professor, nos currículos alternativos; envolvimento na criação de aulas dinâmicas e ajustadas aos seus interesses; a criação de um serviço de socorro a naúfragos, que não só salvou naúfragos como salvou muitos dos que integrou como salvadores; as propostas de trabalho em projetos educativos com jovens socialmente desajustados; tudo isto estava agora bem para trás! Tão atrás que só nos dias bons conseguia vislumbrar alguma sombra de uma vida que o preenchia. Simão olha à sua frente. Os restantes utentes aguardam também a sua vez: faces doridas, esperanças minguadas. Volta a olhar para si e aterroriza-se. Percebe que em grande parte do dia, é este o seu estado de espírito. Levanta-se, vai à janela e usa o vidro como espelho. E frente a frente consigo mesmo, promete que esta imagem não será a sua. ao sentar-se novamente, inicia conversa com o vizinho de cadeira:- Então, estamos aqui mais uma vez?!- É verdade, mas parece que não há nada a fazer. Temos que aceitar a nossa sorte. – Pois eu cá vou fazer alguma coisa: aqui não podem resolver a nossa vida. Vou eu resolver a minha. Olhe, neste tempo em que estive aqui sentado, aprendi uma grande lição: percebi que tenho estado mais parado do que devia. Decidi que vou aprender a aparar sebes ou a limpar matas, sei fazer mudanças, eu sei lá até sei levar crianças a atividades. Sei fazer tudo, se me ensinarem. Simão ia falando e mantendo-se atento ao feed back dos colegas de sala. Talvez tenha sido o desejo de ver algum efeito da sua atitude, mas a verdade é que ficou com a certeza de que naquela sala todos o escutaram. Por um curto intervalo de tempo, pareceu-lhe ver o reacender da esperança nos rostos agora mais admirados do que cansados. Depois de ser atendido, Simão voltou a entrar na sala onde foi acolhido com sorrisos. De mão energicamente levantada num cumprimento coletivo, afirmou:- Tudo o que eu disse, vou cumprir! a resposta foi quase irreal, com todos a bater palmas. Simão deixou-se envolver pelo embalo, e juntou-se-lhes. E, reforçando a sua mensagem, clarificou:- aqui vão também os meus aplausos para cada solução que cada um de nós encontrar. Somos bons! Vamos a isto!Saltitando ao descer os degraus da escadaria de saída do Instituto de Emprego, Simão sentia-se revigorado, decidido, novamente a sentir-se o professor que, hoje melhor do que nunca, dera uma aula brilhante onde ele era o principal aluno.