Numa palavra: na situação em que nos encontramos mandam os credores. é triste, mas deví­amos ter pensado nisso quando nos endividámos loucamente, para financiar, a crédito, um nível de vida insustentável
Numa palavra: na situação em que nos encontramos mandam os credores. é triste, mas deví­amos ter pensado nisso quando nos endividámos loucamente, para financiar, a crédito, um nível de vida insustentávelMuitos portugueses esperavam algum alívio da austeridade em 2014. Mas não haverá alívio. a brutal carga de impostos do Orçamento para 2013 mantém-se no próximo ano. Só que agora vai ser-lhe somada uma série de cortes na despesa pública, sobretudo nos salários da função pública e nas pensões. Porquê? Porque o governo não fez a reforma do Estado, implicando cortes racionais na despesa já no Orçamento para 2012. agora tem que cortar violentamente onde pode, pois os nossos credores estão desconfiados. Essa desconfiança revela-se nos juros a que a dívida pública portuguesa é transacionada no mercado secundário (dívida já emitida). No primeiro semestre do corrente ano esses juros até estavam a descer, mas voltaram para níveis incomportáveis com a crise da coligação em julho – quando se demitiu o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, e o líder do CDS, Paulo Portas (que depois voltou atrás). a desconfiança foi reforçada principalmente por dois outros fatores. O PS alheou-se do memorando de entendimento com a troika (aliás negociado por um governo socialista) e critica severamente a austeridade. Por outro lado, o Tribunal Constitucional já chumbou seis vezes medidas orçamentais do governo e pode voltar a fazê-lo. Não admira que os credores, efetivos ou potenciais, se interroguem sobre a capacidade de Portugal vir a pagar o que deve. Daí a intransigência da troika na última avaliação, em setembro, do programa de ajustamento: não acedeu à pretensão portuguesa de subir o défice em 2014 de quatro para 4,5 por cento. O nosso défice já antes havia sido flexibilizado; uma nova flexibilização poderia ser mal vista nos mercados. Numa palavra: na situação em que nos encontramos mandam os credores. É triste, mas devíamos ter pensado nisso quando nos endividámos loucamente, para financiar, a crédito, um nível de vida insustentável, pois a economia portuguesa quase não cresce desde o início do século. É certo que as famílias já alteraram o seu perfil de gastos – até poupam mais agora (receando o futuro), apesar de o seu rendimento ter baixado. O Estado é que tarda a pôr em ordem as suas contas. Mas o Estado não é um fantasma: há inúmeras pessoas, empresas, grupos de pressão, etc. , que, de uma maneira ou de outra, vivem à mesa do Orçamento. Daí, creio eu, a incapacidade do governo para levar para a frente a reforma do Estado. Há quem defenda o não pagamento da dívida, o que quase de certeza implicaria sair do euro. Na minha opinião, nessa altura teríamos uma austeridade bem pior do que a atual. Por isso há que aguentar. Vislumbra-se uma luzinha no fundo do túnel: a economia dá alguns sinais de poder recuperar em 2014 – o que facilitaria a própria redução do défice orçamental.