Quem trabalha num país estrangeiro, com uma cultura diferente da sua, sabe a complicação que é desconhecer a língua e a cultura local
Quem trabalha num país estrangeiro, com uma cultura diferente da sua, sabe a complicação que é desconhecer a língua e a cultura localEsforçar-se por se fazer entender e comunicar é um grande desafio e é grande a frustração querer transmitir algo que é muito claro na mente de quem comunica, mas que não se consegue exprimir adequadamente por falta de vocabulário e de conhecimento da cultura local. E depois vem a questão do Evangelho. Todos querem ter palavras adequadas para comunicar a mensagem de Deus. Não basta juntar palavras. É preciso construir frases com pensamentos que tenham sentido e que ajudem a descortinar o divino na mensagem. O recém-chegado missionário já tinha sido informado que era preciso preparar-se, porque em tal dia deveria presidir pela primeira vez à celebração da Eucaristia em Madadeni. E ele tinha-se efetivamente preparado: escolheu cuidadosamente o tema, pensou na audiência principal e na maneira de falar. Queria dirigir-se especialmente aos homens daquela missão, entre outras coisas para quebrar o gelo e iniciar uma amizade duradoura. Obviamente queria fazê-lo na língua local, o Zulu, sem tradutor e sem ler o que tinha preparado. No domingo combinado lá começou ele: Madada amathandekayo… . Só que a emoção e a pressa tinham-no traído e ele tinha trocado uma vogal: o a pelo o: devia dizer madoda e não madada. Isto é: chamou patos aos homens. Uma gargalhada geral foi a resposta que obteve. Mas o seu esforço genuíno em comunicar e em querer dialogar, não obstante os seus limites, foram depois amplamente recompensados. anos volvidos, ainda era carinhosamente conhecido pelo padre Madada. Estes trocadilhos podem fazer-nos rir, mas os problemas de comunicação não são só de agora. O Evangelho está cheio de situações equivalentes, e o próprio Jesus inúmeras vezes recorria a trocadilhos para apontar uma verdade profunda. Recordo-me, por exemplo, do encontro de Jesus com a samaritana, no qual usou palavras simples para transmitir uma verdade profunda a um coração sedento de água viva. as suas palavras confundem e desafiam, atraem e abrem mentes.comunicou com essa mulher cruzando barreiras culturais junto de um poço aonde ela tinha ido buscar água, numa atividade normal do seu dia a dia. Outra água tinha Ele para lhe dar. E mudou o seu coração.como é que escolhemos as nossas palavras: para estimular a vida ou para a bloquear?