Quanto mais laços criarmos, mais capazes seremos de compreender o sentido desta vida. Quanto mais horas passarmos a escutar os outros, mais assertivos seremos nas nossas escolhas
Quanto mais laços criarmos, mais capazes seremos de compreender o sentido desta vida. Quanto mais horas passarmos a escutar os outros, mais assertivos seremos nas nossas escolhasHá bem pouco tempo tive a oportunidade de fazer parte de uma equipa que tinha como desafio organizar uma noite diferente num bar. a ideia era refletir e vivenciar, através da escrita criativa e da música, uns dos maiores sentimentos que tem atravessado a franja da história da humanidade sem perder fôlego nem intensidade: a amizadeacompanhados pela mão de antoine de Saint-Exupéry, navegámos nessa bela noite pelas páginas do clássico livro do Principezinho. Esta personagem, através da sua intensa procura de amigos, fez-nos descobrir que o sentimento da amizade, quando é profundamente vivido, torna-se por excelência um gerador autêntico de relações interpessoais, boas e saudáveis. Pessoalmente acho que o sentimento da amizade é um daqueles que melhor veicula o verdadeiro amor, inclusive aquele tipo de amor capaz de entregar a própria vida. Pelo menos assim o testemunhou o Jovem e Valente rapaz de Nazaré quando não hesitou em afirmar: Não há maior amor que dar a vida pelos amigos; já não vos chamo servos, chamo-vos amigos; quem encontrou um amigo encontrou um tesouro. O desafio Se concordarmos que a amizade tem como alicerce o verdadeiro amor, não podemos então fugir da condição essencial que exige o amor: tempo para escutar, partilhar e conhecer. É assim que se cultiva uma verdadeira relação de amizade. Pergunto-me se neste mundo acelerado em que vivemos, onde todos nós andamos sedentos de tempo, ainda é possível encontrar amigos ou tornar-se um verdadeiro amigo. Partilhando um café com uma pessoa maravilhosa que conheci, acabei por lhe confidenciar que ultimamente tenho tido a forte necessidade e vontade de fazer menos e estar mais com as pessoas. a minha capacidade de amar corre perigo se começo a abdicar do meu tempo para fazer amigos. a chave O Principezinho, enquanto anda à procura de verdadeiros amigos, terá um dos encontros mais enigmáticos e reveladores da essência e da existência no campo da amizade. É na conversa com a sábia raposa que o pequeno príncipe dará o salto de qualidade no seu caminho de crescimento e maturidade afetiva. Para fazer verdadeiros amigos é preciso desenvolver a arte de cativar. Cativar, diz a raposa, significa criar laços. Só amamos e conhecemos aquilo que cativamos. Eis a tática e estratégia da grande Religião do amor apresentada e proposta já há mais de dois mil anos por Jesus. Curiosamente uma das etimologias da palavra Religião significa ligar-se outra vez, com aqueles com quem andamos ultimamente afastados: Deus, os homens, a natureza, o universo. a felicidade Mas se tu me cativas, a minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos fazem-me entrar debaixo da terra, o teu chamar-me-á para fora da toca, como se fosse música. Eis a grande diferença que existe entre ter amigos ou simplesmente conhecidos. a amizade gera escuta e partilha, comunicação e compreensão mútua, afeto e interesse pelo outro, confiança e sinceridade, disponibilidade e compromisso livre e desinteressado. Esta curiosa maneira de amar é a única que nos pode ajudar a crescer como pessoas, a conhecer-nos e a conhecer os outros. a vida constrói-se na base de laços e relações autênticas. Não vale a pena enganar-se ao pensar que temos muitos amigos pelo facto de partilhar algumas linhas ou fotografias no mundo virtual ou digital. Esse tipo de comunicação só cria sentimentos momentâneos e passageiros, não fazem grownding, dificilmente vão ao fundo. a neurociência, num estudo feito há mais de dez anos, provou que a amizade é uma das fontes mais grandiosas de felicidade humana. Portanto, é preciso dedicar mais do nosso tempo a criar laços autênticos. Quanto mais laços criarmos, mais capazes seremos de compreender o sentido desta vida. Quanto mais horas passarmos a escutar os outros, mais assertivos seremos nas nossas escolhas. Quanto mais vezes sentirmos o calor de um abraço sincero, mais humanos seremos na nossa capacidade de amar e deixar-se amar. Quanto mais amigos formos, mais amigos teremos com quem compartilhar esta louca aventura de viver e sentir.