alice entrou e sentou-se. avaliou o técnico que a recebia num misto de esperança e descrença
alice entrou e sentou-se. avaliou o técnico que a recebia num misto de esperança e descrençaEsta era apenas mais uma porta a que batia e um interlocutor mais a quem contava a sua história e a do seu filho. Respostas? Já nem sabia se acreditava nelas, mas a verdade é que continuava a procurá-las como um autómato. – É pelo meu Beto que estou aqui. Queria trazê-lo comigo mas ele acha que não precisa de ajudas. Já percorri tudo o que me indicaram, mas ninguém até agora me pôde ajudar. Este é o meu último recurso. – É admirável a sua persistência, dona alice!- É, mas sinto-me cansada e a lutar contra a corrente. Esta luta dura desde o ano passado, quando o Beto mudou de escola. Passava o tempo com os amigos, não estudava era notória a desorganização, a falta de higiene, mas todos me diziam que era mesmo assim. No entanto eu conhecia o meu filho. Vi sinais, mas nem queria ver. O pai tirou férias para estudar com ele. Mesmo assim, o Beto não se esforçou e perdeu todas as disciplinas. Mudou a forma de ser e de se comportar. Já nem o conheço. Sei que o meu filho se alcooliza e se droga. Não quero perdê-lo! ajude-me!Os olhos cansados de alice, ainda ganharam algum brilho, como o de um menino enquanto espera a notícia de um prémio. O técnico, sem jeito, teve de dizer-lhe o que ela temia:- Mas, dona alice, nenhum apoio será eficaz se o Beto não aceitar! – Isso é o que todos me dizem, mas que faço enquanto ouço o não? Fico a vê-lo destruir-se?- Tem razão! Em conjunto planearemos uma estratégia. Mas, desde já, gostaria de falar com a mãe de uma jovem que passou por situação semelhante à do seu filho, e conseguiram um sucesso total?- Ela teve sucesso mesmo? Graças a Deus! Será que essa senhora me receberia?Os contactos foram feitos. Do outro lado da linha Judite nem vacilou: poder ser força de mudança na vida de um outro jovem, de outra família, era motivação suficiente. as duas mães marcaram encontro – urgente – porque ambas sabiam como um dia de angústia é longo, e quantos fantasmas povoam obsessivamente o pensamento. Claro que a história de Judite e de alice não são iguais. Claro que os filhos de ambas viveram realidades diferentes. Mas em comum, as duas mães tinham a determinação de proteger os seus filhos, ambas decidiram não parar enquanto os filhos se autodestruíam; ambas olharam os medos pessoais, as culpas, as vergonhas, e decidiram que tudo isso valia nada face ao valor do filho que decidiram querer salvar. Juntas alimentaram a esperança no Beto, e, recordando fracassos e sucessos, reafirmaram a certeza do poder do amor e da capacidade do homem se recriar e reinventar, mesmo quando parece que o único caminho é desistir.