alberto Trevisiol, missionário da Consolata e reitor da Universidade Urbaniana, considera urgente a procura de respostas para uma melhor integração dos missionários africanos no contexto europeu
alberto Trevisiol, missionário da Consolata e reitor da Universidade Urbaniana, considera urgente a procura de respostas para uma melhor integração dos missionários africanos no contexto europeuFátima Missionária O aumento de vocações africanas e a diminuição de missionários europeus pode levantar problemas de identidade ao Instituto Missionário da Consolata (IMC) e às congregações religiosas em geral? alberto Trevisiol Esse é um fenómeno muito complexo. atualmente, quase metade dos membros do IMC é africana.com uma constatação muito simples. Enquanto os missionários provenientes de África são numerosos e jovens, os europeus estão a diminuir e a ficar velhos. O que quer dizer que hoje a força de trabalho missionário do IMC apoia-se muito nos africanos. Este é claramente um aspeto positivo. Porém, não podemos esquecer que estes missionários, quando entram no contexto europeu, têm o mesmo choque cultural que enfrentaram os missionários europeus quando foram para a África.com uma diferença substancial: os missionários europeus, quando iam para a África, encontravam mais rapidamente um espaço onde realizar o projeto que levavam. Os africanos, quando entram no contexto europeu, encontram uma complexidade cultural, institucional, económica e política muito mais difícil. aqui surge o problema. Não é só a questão da língua, é a questão da compreensão e do impacto. É uma coisa sobre a qual nunca refletimos suficientemente, se o impacto com esta cultura ocidental é construtivo ou destrutivo. FM Qual é a sua opinião? aT Durante um longo período será destrutivo, porque não temos uma reflexão africana para encontrar respostas para a complexidade do mundo europeu. E não a tendo, quase não a supomos, o que é outro erro. Quando nós partíamos para a missão, tínhamos um background’ de teologia, de filosofia e também de cultura social e política que sonhávamos transportar para outro continente. agora, consegue imaginar-se um africano a dizer que transporta a sua bagagem de cultura, filosofia, e visão da vida para o ocidente? É impensável, porque historicamente não estariam prontos a elaborá-la, mas também nós não estaríamos prontos a acolhê-la. Por isso, há um curto espaço de tempo para encontrar uma forma de sucessão para que no ocidente se faça missão em africano. FM Há hoje uma mobilidade muito grande a nível mundial. Os missionários estão preparados para responder a este fenómeno? aT Os fenómenos migratórios estão a gerar uma nova visão do mundo, da religião, uma nova visão antropológica do homem. Já ninguém se sente só português ou só italiano. Somos algo mais. E é este algo mais que será preciso evangelizar. É este algo mais que pode constituir desafios notáveis para os missionários. E qual é o drama? Que os missionários diminuem e que estas perspetivas não são propostas quando se fala de vocações. a forma como se propõem as vocações é uma realidade que pertence ao passado, também porque os animadores já têm uma certa idade. FM O que é ser missionário nos dias de hoje? aT É conseguir dialogar com o mundo em mudança. Se continuamos a falar com uma visão teológica certa e segura, mas que ninguém entende, não é a teologia que é posta fora, somos nós que somos marginalizados. Quando um missionário já não sabe sentir a mudança, não prejudica o Evangelho (que é Jesus), prejudica os destinatários do Evangelho e prejudica-se a si mesmo. Isto acontece também na vida concreta. Quantos padres certamente santos ou que deram a vida pela missão temos perto de nós, mas que não procuramos sempre que aparece uma dificuldade, pois preferimos falar com um menos santo, mas que entenda aquilo que estamos a viver. Os missionários deveriam ser estas sentinelas que olham à sua volta, que percebem aquilo que está a mudar e procuram ir ao encontro. FM O Papa Francisco está a dar uma nova imagem da Igreja, baseada na simplicidade. Esta forma de estar pode abrir novos caminhos de missão? aT até agora o Papa Francisco não disse nada de novo. a sua teologia é uma teologia tradicional. ainda não ouvimos um discurso de renovação teológica da boca deste jesuíta. Mas está a mudar a Igreja. Porquê? Por aquilo que ele é. Ele é cristão, é Evangelho. Tenho a sensação que poderá fazer tudo o que quiser. Poderá até cometer erros, mas a mudança que está imprimindo não depende daquilo que faz, mas daquilo que ele é. E ele é assim. autenticamente assim. É um padre, um cristão, um discípulo de Cristo. E está a levar a Igreja a perguntar-se como fazia para não ser assim. Este é para mim o grande momento que estamos a viver. Um homem normal, que faz as coisas normais, que nos está interpelando porque é que Igreja não era assim e pode ser assim.