«Na Igreja, mas também na sociedade, uma palavra-chave de que não devemos ter medo é a palavra “solidariedade”, ou seja, saber pôr à disposição de Deus aquilo que temos, as nossas humildes capacidades», disse o Papa Francisco
«Na Igreja, mas também na sociedade, uma palavra-chave de que não devemos ter medo é a palavra “solidariedade”, ou seja, saber pôr à disposição de Deus aquilo que temos, as nossas humildes capacidades», disse o Papa Francisco

O Pontífice, na homilia da missa do Corpo de Deus celebrada na Basílica de São João de Latrão em maio passado na cidade de Roma, abordou este tema e são dele as palavras com que iniciamos este artigo. Há três dias, na visita que fez ao Centro dos jesuítas para os refugiados em Itália, voltou a referir a mesma ideia, mas desta vez de uma forma mais específica.

O Santo Padre teve oportunidade de apreciar não só a quantidade de pessoas acolhidas pelo Centro astalli, mas também verificar como eram tratadas, tendo mesmo escutado alguns testemunhos. E dirigiu-lhes a palavra, especialmente aos refugiados, dizendo: Cada um de vocês traz uma história que nos fala de dramas de guerra, de conflitos, muitas vezes ligados às políticas internacionais. Mas cada um de vocês traz consigo – sobretudo – uma riqueza humana e religiosa, uma riqueza a ser acolhida, não para ter medo. Muitos de vocês são muçulmanos, de outras religiões, vêm de diversos países, de situações diferentes. Não devemos ter medo das diferenças. Vivamos a fraternidade, afirmou o Papa.

Nessa visita o Papa quis ser mais explícito e resumiu em três palavras o programa de trabalho dos jesuítas e seus colaboradores: servir, acompanhar e defender. E explicou que servir é acolher a pessoa que chega com atenção, curvando-se sobre quem tem necessidade, estendendo-lhe a mão, sem cálculos, sem temor, com ternura e compreensão, como Jesus se inclinou e lavou os pés dos apóstolos.

Os pobres são também mestres privilegiados do nosso conhecimento de Deus; a sua fragilidade e simplicidade desmascaram os nossos egoísmos, as nossas falsas seguranças, as nossas pretensões de autossuficiência e nos guiam à experiência da proximidade e da ternura de Deus, a receber na nossa vida o seu amor, a sua misericórdia de Pai que, com discrição e paciente confiança, cuida de nós, de todos nós.

No acompanhar o Papa Francisco sublinhou: Não basta dar o pão se não vem acompanhado da possibilidade de aprender a caminhar com as próprias pernas. a caridade que deixa o pobre assim como é, não é suficiente. a misericórdia verdadeira, aquela que Deus nos dá e nos ensina, pede a justiça, pede que o pobre encontre o caminho para não ser como tal. Pede – e pede a nós Igreja, a nós cidade de Roma, às Instituições – que ninguém deva mais ter necessidade de uma refeição, de um alojamento por sorte, de um serviço de assistência legal, para ter reconhecido o próprio direito a viver e trabalhar e ser pessoa em plenitude. Isto é integração.

Em relação ao defender lembrou: Quantas vezes levantamos a voz para defender nossos direitos, e quantas vezes somos indiferentes para com os direitos dos outros!. Disse que para a Igreja é importante que a acolhida do pobre, a promoção da justiça, não seja confiado somente a especialistas’, mas seja uma atenção de toda a pastoral, da formação dos futuros sacerdotes e religiosos, do compromisso normal de todas as paróquias, movimentos e agregações eclesiais. Pediu aos Institutos religiosos a leitura deste sinal dos tempos e alertou: Os conventos vazios não servem à Igreja para transformar-lhes em albergues e ganhar algum dinheiro. Os conventos vazios não são nossos, são para a carne de Cristo que são os refugiados. O Senhor chama a viver com generosidade e coragem a acolhida nos conventos vazios.

O Santo Padre falava em concreto para a comunidade italiana, mas as suas palavras devem ser ouvidas pelas comunidades de todo o mundo. afinal a palavra solidariedade, mas sobretudo a sua prática, será das coisas mais ricas do espírito humano e espelha o caminho do cristão na procura do sublime que é o além, pois a vida não fará sentido sem essa perspetiva. Solidariedade pode ser o cimento para que haja justiça, amor, mas especialmente o estender de mão ao irmão que ao nosso lado precisa de alguma coisa. É importante não esquecer o que é e representa a solidariedade entre as pessoas.