Portugal, como outros países europeus, vê alargar-se o fosso entre as classes sociais. a aplicação da austeridade não tem sido equitativa e tem recaí­do sobre os setores da população que não tem por onde se defender
Portugal, como outros países europeus, vê alargar-se o fosso entre as classes sociais. a aplicação da austeridade não tem sido equitativa e tem recaí­do sobre os setores da população que não tem por onde se defender

O relatório da organização não governamental (ONG) Oxfam, divulgado o mês passado, chama a atenção para o perigo que constitui o caminho da austeridade que está ser traçado por alguns países europeus. aí refere Portugal como exemplo negativo. De acordo com aquela organização, as políticas seguidas estão a beneficiar os mais ricos e os cortes estão a impedir o crescimento e a aumentar a pobreza, mesmo entre quem tem emprego. Segundo o relatório da Oxfam, se nada for feito e as medidas de austeridade atualmente em vigor continuarem a ser implementadas, dentro de 12 anos a Europa corre o risco de ter cerca de 25 milhões de pobres.

apelamos aos Governos europeus que liderem um novo modelo social e económico que invista nas pessoas, reforce a democracia e procure um sistema fiscal justo, afirma Natalia alonso, responsável pela Oxfam na União Europeia. a ONG supõe que possam ser necessários 25 anos para que se recupere o nível de vida que havia antes da crise económica e financeira, um caminho que só poderá ser invertido com medidas muito bem estruturadas de combate à pobreza.

O relatório alerta os responsáveis políticos para o facto de os resgates financeiros que têm vindo a ser feitos apenas estarem a causar níveis de pobreza e de desigualdade que podem durar décadas. as medidas de austeridade não estão a conseguir reduzir o nível de endividamento tal como se supunha que fariam, nem a impulsionar um crescimento económico inclusivo.

Em relação a Portugal, a ONG salienta que a crise está a afetar muitos jovens, mas também a dificultar a vida das populações mais vulneráveis nestas alturas, como as mulheres. a organização refere que mesmo quando se mantêm os apoios sociais, adotam-se diversas medidas que aumentam os requisitos que devem cumprir os desempregados para poderem aceder às ajudas.

No relatório são citados exemplos concretos de outros países, como Espanha, Grécia, Irlanda e Reino Unido, onde a austeridade está a ser aplicada de forma mais rigorosa afirmando que estes rapidamente estarão entre os países com maior desigualdade do mundo se os seus líderes não mudarem de rumo.

Os responsáveis do documento referem também a pressão internacional para Portugal privatizar serviços essenciais como transportes, água, energia e alguns serviços de saúde, ao mesmo tempo que deveria liberalizar o mercado laboral. Contudo, critica a forma como foi feito sem a garantia das devidas proteções ao emprego e sem uma vigilância apertada. Por outro lado aponta o aumento do IV a como mais um fator que dificultou o poder de compra no país. Grécia, Portugal e Espanha aplicaram políticas dirigidas a desmantelar os sistemas de negociação coletiva, o que provavelmente se traduzirá no aumento da desigualdade e na queda contínua do valor real dos salários, pode ler-se no texto.

Quanto a Portugal é ainda referido que entre 2010 e 2011 a desigualdade nos rendimentos tem beneficiado as elites económicas. O relatório dá como exemplo o crescimento do mercado de bens de luxo, acrescentando que após as crises financeiras em geral os mais ricos veem os seus rendimentos crescer 10% enquanto os mais pobres os perdem em proporção idêntica.

O prefácio deste relatório é feito pelo Nobel da Economia Joseph Stiglitz que diz: a onda de austeridade económica que varreu a Europa corre o risco de provocar danos sérios e permanentes ao modelo social, avisando que está a contribuir para a desigualdade que vai tornar as fraquezas económicas mais duradouras. São palavras responsáveis de uma personalidade muito conhecedora da economia mundial e que deveriam ser escutadas pelos governantes portugueses.