Na primeira entrevista do Papa Francisco concedida às revistas dos jesuítas, recolhida pelo padre antonio Spadoro (diretor da La Civiltá Cattolicca), este aborda temas importantes e de uma forma que dá a primazia ao ser humano
Na primeira entrevista do Papa Francisco concedida às revistas dos jesuítas, recolhida pelo padre antonio Spadoro (diretor da La Civiltá Cattolicca), este aborda temas importantes e de uma forma que dá a primazia ao ser humano

a importância e atualidade da entrevista concedida em agosto passado são inegáveis. O trabalho está condensado integralmente na revista Broteria, dos jesuítas portugueses, que apesar de extensa merece a leitura dos católicos e daqueles que se interessam pelo tema.

a riqueza dos diversos temas poderia levar-nos à tentação de comentários mais específicos, mas optamos por escolher aleatoriamente alguns que nos parecem mais oportunos, deixando ao leitor a sugestão da sua consulta na íntegra.

Quando o entrevistador pergunta ao Papa quem é Mario Bergoglio, este dá uma definição que revela a sua simplicidade e humildade perante o Supremo: Sou um pecador para quem o Senhor olhou. E repete: Sou alguém que é olhado pelo Senhor. a minha divisa, Miserando atque eligendo, senti-a sempre como muito verdadeira para mim.

Já em relação à esperança, Francisco diz que a esperança cristã não é um fantasma e não engana. É uma virtude teologal e, portanto, definitivamente, um presente de Deus que não se pode reduzir ao otimismo, que é apenas humano. Deus não defrauda a esperança, não pode negar-Se a Si mesmo. Deus é todo promessa.

O papel da mulher na Igreja é visto assim pelo Papa: É necessário ampliar os espaços de uma presença feminina mais incisiva na Igreja. Temo a solução do machismo de saias, porque, na verdade, a mulher tem uma estrutura diferente do homem. E, pelo contrário, os argumentos que oiço sobre o papel da mulher são muitas vezes inspirados precisamente numa ideologia machista. as mulheres têm vindo a colocar perguntas profundas que devem ser tratadas. a Igreja não pode ser ela própria sem a mulher e o seu papel. a mulher, para Igreja, é imprescindível. Maria, uma mulher, é mais importante que os bispos.

No que concerne à vida pessoal, Francisco diz: a religião tem o direito de exprimir a própria opinião para serviço das pessoas, mas Deus, na criação, tornou-nos livres: a ingerência espiritual na vida pessoal não é possível. E adiantou: Se uma pessoa homossexual é de boa vontade e está à procura de Deus, eu não sou ninguém para julgá-la. Desta forma o Papa revela exatamente aquilo que Cristo fazia: acolher todos aqueles que sendo diferentes procuravam o caminho da esperança e da fé.

Em relação aos problemas sociais, como a pobreza, Francisco dá um exemplo baseado na sua experiência pessoal: Quando se fala de problemas sociais, uma coisa é reunir-se para estudar o problema da droga num bairro de lata, e uma outra coisa é ir lá, morar e compreender o problema a partir de dentro e estudá-lo. Há uma carta genial do P. arrupe aos Centros de Investigación y acción Social (CIaS) sobre a pobreza, na qual se diz claramente que não se pode falar de pobreza se não se experimenta com inserção direta nos lugares nos quais ela se vive.

O que precisa a Igreja? Vejo com clareza que aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar altos. Devem curar-se as suas feridas. Depois podemos falar de tudo o resto. Curar as feridas, curar as feridas… E é necessário começar de baixo referiu o Papa Francisco.

É uma abordagem diferente e mais humanista de um Papa que, sem beliscar os princípios basilares da Igreja de Cristo, vai ao encontro do mundo contemporâneo.