Está na ordem do dia a discussão sobre a Comunidade Económica Europeia. Depois de tantos anos de luta por uma Europa unida, começam a surgir no horizonte nuvens de descrença e de um possível descalabro
Está na ordem do dia a discussão sobre a Comunidade Económica Europeia. Depois de tantos anos de luta por uma Europa unida, começam a surgir no horizonte nuvens de descrença e de um possível descalabroDeorreu de 13 a 14 deste mês em Lisboa o 2º Encontro Presente no Futuro, evento organizado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que debateu o tema: Portugal Europeu. E agora? Foram abordados os caminhos de Portugal enquanto país europeu e europeizado, tendo em conta a forma como os portugueses se reveem nesta comunidade política, económica e de valores que abarca hoje 28 países, para além de outros aspetos relacionados com o enquadramento da Europa num mundo globalizado.

a qualidade dos intervenientes foi notória na forma como expôs as diversas temáticas. Certamente, que advêm deste evento bons motivos para que os portugueses possam pensar o futuro realisticamente, sem os véus da hipocrisia política em que este país está mergulhado.

a União Europeia (UE) tem ainda um longo caminho a percorrer para atingir as metas preconizadas pelos homens que tiveram o sonho – e por que não a utopia – de unir um continente onde a livre circulação de pessoas e bens fosse uma realidade. O modelo adotado inicialmente foi sofrendo ajustamentos ao longo de décadas, quase sempre de acordo com a vontade dos países mais fortes política e economicamente, sem que fosse definido o tipo concreto da união.

Se é verdade que houve benefícios na adesão portuguesa, também não é menos verdade que os políticos que governaram desde então, e até hoje, não souberam tirar o melhor partido daquilo que receberam para preparar Portugal para o embate do mercado único. Não se devem atribuir culpas da atual situação exclusivamente à UE, apesar das incongruências que se têm verificado, mas mais aos sucessivos governos que dirigiram o país.

Paulo Rangel, eurodeputado do PSD – uma das personalidades presentes no evento – declarou: a União Europeia pode acabar. Se ela acabar, a situação europeia será catastrófica. Não é um cenário de terror, é uma realidade. Há riscos sérios na UE neste momento e o primeiro são as relações entre Estados. Em relação ao fenómeno de perda de soberania dos Estados comunitários face às instituições europeias e a outros países com mais peso no contexto europeu, o eurodeputado lembrou que nós não vamos perder poder, porque já o perdemos. Não me custa perder poder porque isso já aconteceu. É preciso é saber se e como podemos influenciar quem tem agora o poder, referiu. apesar disso, Paulo Rangel mostrou-se otimista em relação ao projeto europeu, lembrando os seus méritos e as suas origens relacionadas com a garantia da paz na região. Para ana Gomes, também eurodeputada no Parlamento Europeu, já nenhum país europeu se basta, pelo que defende uma Europa federalizada, uma vez que já não é possível aos Estados-membros responder aos desafios sozinhos. Todos cedem soberania para ganhar soberania, afirmou a eurodeputada.

Dani Rodrik, professor da Universidade de Harvard e especialista em globalização, disse que a responsabilidade pela atual crise da Zona Euro não se pode resumir à dicotomia Norte e Sul. Grande parte da responsabilidade pertence a toda a União Europeia, afirmou. O economista defendeu que a atribuição de toda a culpa aos países periféricos é enganadora, mas que a responsabilidade deve ser repartida por todos os estados da moeda única, mostrando-se muito pessimista em relação aos resultados da atual estratégia de resolução da crise, dizendo que nem as fragilidades financeiras nem os problemas de competitividade foram resolvidos. Rodrik argumentou ainda que todos os países só podem escolher duas de três coisas: união económica e monetária; soberania nacional; democracia. Têm de abdicar de uma, concluiu.

Perante um projeto europeu que se queria consolidado, será que, mais uma vez, teremos uma Torre de Babel que vai ruir, tal como uma construção de areia?