«ao admirarmos hoje a notável coleção, questionamo-nos facilmente sobre o destino que teria este património se não fosse adquirido pelo padre Belo. algum dele estaria irremediavelmente perdido fisicamente»
«ao admirarmos hoje a notável coleção, questionamo-nos facilmente sobre o destino que teria este património se não fosse adquirido pelo padre Belo. algum dele estaria irremediavelmente perdido fisicamente»No passado dia 23 de agosto tive o grato prazer em deslocar-me até à vila do Crato a fim de participar numa conferência comemorativa do décimo aniversário da Casa Museu Padre Belo. a razão da minha deslocação a esta vila alentejana prendeu-se com o facto do padre antónio Rosado Belo (1929-2008) ter sido o responsável pela importante e interessante coleção de Meninos Jesus existente na exposição permanente e nas reservas do meu local de trabalho, no Museu de arte Sacra e Etnologia dos Missionários da Consolata, em Fátima. Infelizmente, não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. No entanto, face à qualidade e ao número de espécimes reunidos, contabilizando-se em largas centenas, estes espelham a sua enorme paixão e o gosto colecionista pela figura do Menino Jesus. além da representação da infância de Jesus Cristo, encontramos vários oratórios, Cristos, crucifixos e diversas representações marianas. a origem da sua coleção surgiu através da aquisição, mas também de ofertas. Conhecendo o seu grado, várias famílias e antiquários iam frequentemente ter com ele antes de venderem o seu património a terceiros. Na realidade, encontramos parcos testemunhos do seu pensamento, deixando este poucos elementos escritos sobre a sua perspetiva em relação ao património e sua coleção. Segundo vários depoimentos, o padre Belo, na eucaristia, revelava-se como um inovador no aproximar-se muito das pessoas, utilizando amiúde o património exposto como exemplo nas suas homílias. Lamentava-se também pelo fato da população do Crato não ter valores artísticos, possuindo uma grande mágoa pelas famílias alienarem o seu património, vendendo-o para fora, não ajudando a sua terra. afirmou inclusivamente que o Crato sem água e sem cultura não viverá!. a sua Casa-Museu começa aos poucos a ser conhecida, surgindo paulatinamente a pressão dos municípios vizinhos em adquirirem a sua coleção, tendo em vista a criação de um museu. Esta situação torna o padre Belo receoso, pois era seu desejo que esta permanecesse no Crato, convivendo com ela até à sua morte. através de vários contactos com o Instituto Missionário da Consolata, o padre do Crato coloca em Fátima parte da sua coleção, uma vez que a esta cidade-santuário afluiriam milhares de peregrinos de várias partes do país e do mundo, conseguindo um maior alcance na promoção e divulgação do seu gosto. Não dando como terminada a sua prática colecionista, com o financiamento obtido, investe em mais aquisições para a sua casa-Museu do Crato, doando esta, mais tarde, à Misericórdia do Crato, uma vez que o município não manifestou interesse em obtê-la. Estabeleceu exigentes condições para que a coleção não fosse dividida. ao admirarmos hoje a notável coleção, questionamo-nos facilmente sobre o destino que teria este património se não fosse adquirido pelo padre Belo. algum dele estaria irremediavelmente perdido fisicamente por questões de conservação, outro alienado para o estrangeiro, deixando um vazio no património religioso português ao alienarem-se testemunhos da fé a que gerações e gerações recorreram. Hoje, este espaço engrandece e valoriza a vila do Crato, apresentando-se como uma importante atração turística.como foi referido na citada conferência em que participei, a cultura não gera riqueza, mas impulsiona-a!. Um bom exemplo a seguir e já agora, numa próxima oportunidade, conheça a coleção do padre Belo na sua Casa-Museu no Crato e no Museu de arte Sacra e Etnologia em Fátima!*Diretor do Museu de arte Sacra e Etnologia, Fátima