a Igreja precisa de estar mais atenta ao fenómeno da mobilidade e de apostar numa pastoral que valorize a influência dos mais velhos na educação das gerações jovens, foi defendido na abertura da assembleia Regional do Instituto Missionário da Consolata
a Igreja precisa de estar mais atenta ao fenómeno da mobilidade e de apostar numa pastoral que valorize a influência dos mais velhos na educação das gerações jovens, foi defendido na abertura da assembleia Regional do Instituto Missionário da Consolataas práticas de integração em vigor na Igreja Católica podem não estar a ser as mais adequadas ao fenómeno da mobilidade que caracteriza as sociedades modernas, afirmou esta segunda-feira, 2 de setembro, em Fátima, o diretor do Instituto Universitário de Ciências Religiosas e coordenador executivo do Centro de Estudos de Religiões e Culturas, alfredo Teixeira. Para o investigador, o facto de existirem estudos que revelam uma diminuição da frequência da eucaristia dominical, não significa que existam menos crentes, mas sim uma maior irregularidade na participação religiosa. Partindo da compreensão das pessoas que não estão presentes com a regularidade que a instituição desejaria, mas manifestam práticas de aproximação e de vinculação em ritmos diversificados e persistentes, alfredo Teixeira considera que não pode dizer-se que a religião está num processo continuado de erosão, mas numa fase de recomposição, onde os comportamentos religiosos, as atitudes, os modos de adesão aos grupos e comunidades religiosas são claramente distintos. Neste sentido, o docente, que falava na sessão de abertura da assembleia Regional do Instituto Missionário da Consolata (IMC), defendeu metaforicamente a aplicação de uma pastoral da descompactação, que permita conhecer as pessoas com modos diferentes de se identificaram com a comunidade católica – por aquilo que são e não por aquilo que achamos que deveriam ser – tornando-as verdadeiramente interlocutoras da Igreja. Os dados apelam a uma mudança urgente do trabalho pastoral, adiantou o investigador, que coordenou o estudo Identidades Religiosas em Portugal – representações, valores e práticas, promovido pela Conferência Episcopal Portuguesa. Já Carlos Liz, especialista em estudos de mercado e opinião, apresentou o dinamismo crescente das pessoas com mais idade como a grande novidade que está a acontecer na sociedade portuguesa, referindo-se a esta faixa etária da população como um campo extraordinário de missão. a tendência tem sido encarar as pessoas a partir dos 65 e até aos 80 anos como estando numa espécie de fim de percurso, mas o que se está a verificar é que se trata de uma geração fortemente interventora junto dos grupos mais novos, aos quais a Igreja tem tradicionalmente dificuldade em chegar. Os mais velhos estão realmente a ser convocados para tarefas muito interessantes que vão, literalmente, desde apoio financeiro, até apoio afetivo, logístico, capacidade de ver os filhos saírem de casa mais tarde do que era habitual, e uma novidade, capacidade de os voltar a receber, porque experimentaram formas de vida que não resultaram, sublinhou Carlos Liz. Segundo o especialista, a Igreja em geral e os missionários em particular, precisam de uma pastoral de alta mobilidade para uma sociedade e para famílias de alta mobilidade. Uma pastoral que não seja rabujenta, que não fique a lamentar-se por algumas coisas não serem como pensava que deviam ser, que seja capaz de adaptar-se à mudança dos tempos. Chegou o momento dos missionários se chegarem à frente, com as suas malas pouco pesados e a sua disponibilidade, de irem ter com a realidade múltipla que está à nossa frente, reforçou Carlos Liz, à margem do encontro. a assembleia Regional está a decorrer no Seminário do IMC, até quarta-feira, 4 de setembro, e conta com a participação dos missionários da Consolata que trabalham em Portugal. além das duas intervenções na sessão de abertura, a agenda de trabalhos contempla ainda uma comunicação do padre alberto Trevisiol sobre o papel do Instituto no contexto europeu e quais os seus desafios.