O recolher obrigatório impôs uma calma precária na capital egí­pcia, mas os apoiantes da democracia que participaram no levantamento de janeiro 2011 temem um endurecimento entre o exército e a Irmandade muçulmana

O recolher obrigatório impôs uma calma precária na capital egí­pcia, mas os apoiantes da democracia que participaram no levantamento de janeiro 2011 temem um endurecimento entre o exército e a Irmandade muçulmana
Há uma calma precária nas ruas do Cairo. ahmed que tem um comércio no bairro de abdeen, a dois passos do centro da cidade, diz que acolheu com alegria a passagem do recolher obrigatório das 19 para as 21 horas, desde o dia 25 de agosto, e afirma que as pessoas já têm menos medo e começam a sair à noite. Contrariamente ao que se passava durante o levantamento de janeiro 2011, os egípcios respeitam globalmente o recolher obrigatório: o Cairo voltou a ter os tradicionais engarrafamentos durante o dia, os carros são raros após as 21 horas. Para a maioria das pessoas, a medida justifica-se, porque a gente pensa que há grupos armados nas ruas e por isso fica em casa, afirma Karim Ennarah, investigador numa organização de defesa dos direitos humanos no Cairo. a maioria dos egípcios parecem efectivamente apoiar plenamente a guerra contra o terrorismo na qual as novas autoridades se dizem empenhadas. Para Nourhan, uma mãe de família que veio comprar iogurtes na loja de ahmed, os Irmãos muçulmanos andavam armados e atiraram sobre a polícia quando veio evacuar os acampamentos de Rabaa e Giza, em 14 de agosto. É por isso que houve tantos mortos é lamentável, mas não havia outro meio, suspira a senhora. Esta versão oficial dos acontecimentos, alimentada pelos canais da televisão, públicos e privados, há poucos egípcios que ousam contestá-la em público. Não gosto dos Irmãos muçulmanos, porque considero que eles são conservadores retrógrados com tendências ditatoriais, mas não posso aprovar que se decida matá-los a todos!, exclama Gigi Ibrahim, membro dos socialistas revolucionários e ativista pró-democracia da primeira hora.como Gigi Ibrahim, vários militantes que se manifestaram no dia 30 de junho contra Mohamed Morsi não tardaram, em seguida, a distanciar-se do novo poder. É o caso do movimento dos Jovens 6 deabril, uma das pontas de lança do levantamento contra Hosni Moubarak. O apoio popular de que goza o poder irá durar? Quando as pessoas virem que o general Sissi, que eles olham como um salvador, não é capaz de resolver os problemas económicos do país, a opinião vai mudar, considera Gigi Ibrahim.