«Num museu interagem de forma enérgica objetos e visitantes com diferentes e variadas leituras e conhecimentos. O património sagrado é alvo de uma mirí­ade de informações materiais, simbólicas e teológicas»
«Num museu interagem de forma enérgica objetos e visitantes com diferentes e variadas leituras e conhecimentos. O património sagrado é alvo de uma mirí­ade de informações materiais, simbólicas e teológicas»Presentemente, a musealização do objeto religioso é vista como uma mais-valia para a preservação do património relegado pelas alterações de gosto, mentalidades, segurança, aspetos políticos e mudanças de práticas litúrgicas. Independentemente da tutela que conserva o objeto num espaço museológico, seja ela civil ou religiosa, a transposição do objeto do seu local de origem descontextualiza-o. Vantagens e desvantagens surgem necessariamente com a referida descontextualização. Segundo Isabel Roque (2011) O ambiente que o museu lhe recria é artificial, cria uma nova perspetiva que pode mutilar, mas também estruturar e complementar o conhecimento, desvendar significados e símbolos que, no decurso da liturgia, apenas seriam intuídos pelos iniciados Na perspetiva de Nuno Saldanha (2011) a musealização da arte religiosa implica uma desconstrução teológica, retirando o sentido espiritual e transcendental dos objetos litúrgicos. O investigador não considera a arte Sacra um objeto de museu, ou de uma coleção, independentemente de ser eclesiástico ou estatal, ou estar num edifício profano ou sagrado. Por outro lado, este também não considera a igreja como um museu, ou uma sala de espetáculos, () é sobretudo um edifício consagrado, signo de transcendência, lugar de memória, identidade e sentido, no qual a comunidade se reúne para escutar a Palavra Divina, para a oração, celebrar a Eucaristia, e receber os sacramentos, independentemente da sua beleza ou valor artístico. apesar deste seu ponto de vista, sublinha o historiador que não se devem fechar as igrejas e os seus bens artísticos aos não crentes. Pelo contrário, é neste sentido que devemos ver a importância da arte Sacra de acordo com uma evangelização através da arte. Estamos, portanto, diante de uma clara discussão à volta do valor do objeto religioso no museu. O risco da qualidade artística sobrevalorizá-lo em detrimento de outras valias é evidente. Num museu interagem de forma enérgica objetos e visitantes com diferentes e variadas leituras e conhecimentos. O património sagrado é alvo de uma miríade de informações materiais, simbólicas e teológicas. Estaríamos, portanto, a ser redutores ao atribuir aos objetos características únicas e raras. a Comissão Pontifícia para os Bens Culturais da Igreja, na sua carta sobre a Função Pastoral dos Museus Eclesiásticos, refere que a identidade desse património é devida ao uso eclesial pelo que não deve ser retirado de tal contexto. Portanto devem-se elaborar estratégias de avaliação global e contextual do património histórico e artístico, de modo que se possa desfrutá-lo em toda a sua complexidade. *Diretor do Museu de arte Sacra e Etnologia, Fátima