a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, foi mais uma oportunidade para o Papa Francisco aclarar alguns equívocos que se instalaram na Igreja. a forma de agir da estrutura hierárquica terá que mudar
a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, foi mais uma oportunidade para o Papa Francisco aclarar alguns equívocos que se instalaram na Igreja. a forma de agir da estrutura hierárquica terá que mudarNo último dia da visita ao Brasil, o Papa Francisco reuniu-se com os membros do Comité do Conselho Episcopal Latino americano e pediu aos bispos para que sejam pastores, junto do povo, homens que amam os pobres e não pensam nem se comportam como príncipes.

Os bispos devem liderar, o que não é a mesma coisa do que ser autoritário, avisou num discurso em que também advertiu contra o clericalismo no qual a Igreja projeta uma imagem de poder e de privilégio, cabendo ao leigo orar e obedecer. O fenómeno do clericalismo explica, em grande parte, a falta de maturidade e liberdade cristã numa boa parte dos leigos da américa Latina, disse.

as palavras de Papa Francisco dirigidas aos bispos da américa Latina certamente que se aplicam a outros continentes, pois o problema existente não é diferente. Há na cultura portuguesa algo idêntico. as pessoas simples olham e tratam um bispo, e até mesmo um padre, com uma reverência especial em relação a outras pessoas. Tudo nos leva a fazê-lo, embora nada nos obrigue – a não ser a boa educação – quando muitas vezes deduzimos uma superioridade no bispo, que a tem de fato, mas não de ordem material e sim espiritual. Não foi por acaso que Francisco, enquanto Papa, se despojou do anel e outras vestes, ele apenas exemplificou a humildade que os consagrados a Deus, bispos e sacerdotes têm uma visibilidade importante, devem demonstrar perante o povo seguidor da Igreja cristã.

O Papa destacou que são os bispos que conduzem a pastoral, e que eles se devem aproximar das pessoas. Homens que amem a pobreza, seja a pobreza interior como liberdade perante o senhor, seja a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida. Homens que não tenham ‘psicologia de príncipes’. Homens que não sejam ambiciosos, homens capazes de velar sobre o rebanho confiado e cuidando de tudo aquilo que o mantém unido, vigiar seu povo com atenção para os eventuais perigos que o ameacem, sobretudo para garantir a esperança, que haja sol e luz nos corações, afirmou, acrescentando: O lugar do bispo para estar com seu povo é triplo: à frente, para indicar o caminho; no meio, para mantê-lo unido e neutralizar os debandes; ou atrás, para evitar que algum fique atrasado, mas também, e fundamentalmente, porque o rebanho também tem olfato próprio para encontrar novos caminhos.

O Papa sugeriu aos pastores um exame de consciência, pede-lhes que sejam não simples administradores, que conduzam uma pastoral da misericórdia voltada a recuperar quem se distanciou, mas que envolvam os fiéis leigos superando toda e qualquer tentação de manipulação ou indevida submissão. a Igreja é instituição, porém quando se eleva ao ‘centro’ assume aspeto funcionalista e pouco a pouco se transforma numa ONG. De ‘Instituição’ se transforma em ‘Obra’. Deixa de ser Esposa para acabar sendo administradora; de Serva se transforma em ‘Supervisora’. Pensamos que estas palavras de Francisco consubstanciam o verdadeiro problema da Igreja, ou antes, dos seus mandatários.

Felizmente que em Portugal há bispos e padres que têm a consciência da necessidade de humildade na ação e proximidade com o rebanho, embora com práticas diferentes, mas outros haverá que ainda necessitam de encontrar o caminho mais adequado. O Papa Francisco veio apenas lembrar aquilo que Cristo fazia: Era Senhor, mas o primeiro dos servos para servir aqueles que o procuravam. Parece que a maior parte das pessoas esquecem o significado da palavra servir e quantas vezes a transformam em servir-se, nada menos errado. Cabe à Igreja, enquanto estrutura, e aos bispos e padres – especialmente – mas também aos leigos, a obrigação do exemplo do amor e caridade para com todos, cristãos ou não.