Portugal, vivendo a sua longa via-sacra de austeridade e ajustamento, teve no início de julho de 2013 uma série de percalços que perturbaram o caminho
Portugal, vivendo a sua longa via-sacra de austeridade e ajustamento, teve no início de julho de 2013 uma série de percalços que perturbaram o caminhoUma das muitas vantagens de ser cristão é olhar sempre para o essencial. Os discípulos de Jesus nunca contemplam a turbulência do quotidiano sem pensar nas forças profundas que a geram. Nunca olham para a cruz sem considerar a ressurreição. Portugal, vivendo a sua longa via-sacra de austeridade e ajustamento, teve no início de julho de 2013 uma série de percalços que perturbaram o caminho. alguns viram aí a Verónica que limpa o sangue ou até um Cireneu que alivia a carga. Outros simplesmente interpretaram como mais uma das muitas quedas do caminho, esta mais violenta que as anteriores. Muitos, como de costume, duvidam que o condenado se levante. Que dizer com segurança acerca destes acontecimentos, aliás ainda longe do fim? Para evitar as especulações e fantasias que pululam na nossa imprensa, e que tanto mais falam quanto menos sabem, deve usar-se a abordagem cristã e contemplar as forças determinantes. O país passa por um doloroso e intenso período de ajustamento. após décadas de desequilíbrios e enviesamentos, avança um forte processo de poupança e transformação. Os aspectos mais visíveis são financeiros e orçamentais, mas há enormes desenvolvimentos nos campos produtivo, regional, laboral, e outros. Está a nascer a futura economia nacional. Os sofrimentos são óbvios, mas o que surpreende é a forma como a sociedade portuguesa tem reagido à terrível pressão. a História diz que seria sempre muito difícil sair daqui; mas um povo flexível, empenhado e solidário teria resultados mais rápidos e menos desastrosos. Ora Portugal, longe de ter uma boa resposta, viveu nos últimos anos uma evolução mais favorável que a maior parte dos parceiros em condições semelhantes. O processo está longe do fim. Os ajustamentos vão durar muitos anos, e nunca poderemos voltar às tolices anteriores. Mas aproxima-se o fim do princípio. a generalidade das previsões oficiais afirma que a economia parará a queda no final de 2013, tendo crescimento ligeiro em 2014. O desemprego, que crescerá ainda algum tempo, aproxima-se dos máximos antecipáveis. Portugal não pode abrandar a vigilância, mas começa a colher os frutos da pesada terapêutica. Estes factos estão certamente ligados aos acontecimentos de julho. O cansaço e desgaste pelas pesadas medidas gerou as fracturas na coligação governamental. Mas, apesar dos cépticos, é também crescente o debate à volta do período pós-troika que deve começar em julho de 2014, o que certamente inspira muitos dos comportamentos políticos e económicos destes dias. Que devem dizer os cristãos a isto? Dizem que é preciso evitar euforias e desânimos. Que os problemas ainda são muito grandes e exigem ainda muita atenção. Que uma abordagem solidária, dialogante e comprometida é essencial para facilitar a difícil tarefa que nos cabe a todos. Não sabemos bem em que estação da via-sacra nos encontramos. aquilo que não podemos esquecer é o que se diz em todas elas: Nós vos adoramos e bendizemos, ó Jesus, que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.