é bom sonhar! E é o que fazemos com a nossa pobre comunidade. Partilhamos o caminho, tornando o sofrimento menos amargo e a pobreza menos dura.
é bom sonhar! E é o que fazemos com a nossa pobre comunidade. Partilhamos o caminho, tornando o sofrimento menos amargo e a pobreza menos dura. Há alguns meses estamos a tentar realizar um sonho na paróquia da Liberdade, nos arredores de Maputo. Desde Fevereiro estamos a tentar sensibilizar a comunidade paroquial para a necessidade da solidariedade. Este projecto tem como título e programa: Pastoral da Saúde. é nossa intenção fazer que as pessoas da paróquia se tornem sensíveis à presença da doença na própria vida e na vida do próximo.
O conceito de saúde é entendido no sentido mais amplo da palavra. Inclui todos os elementos patológicos que podem acarretar sofrimento à pessoa humana: doença física ou psicológica, mal do corpo ou da alma, sofrimento pessoal ou até social. O objectivo é criar uma mentalidade de prevenção e de correcção de atitudes ou costumes que geram situações de “doença”.
Para isso, com uma Irmã franciscana, começamos a visitar os “núcleos” (grupos de famílias da paróquia), que se reúnem, uma vez por semana, para um tempo de oração e reflexão mais familiar. Nestas visitas procuramos explicar a ideia mais alargada de “saúde”. E encorajamos a criação de um pequeno grupo de acção a nível paroquial. além disso, procurámos despertar a responsabilidade de cada um em relação aos que sofrem. acontece, por vezes, encontrarmos situações de pessoas que vivem situações que estão no limite (ou aquém) do que consideramos humano. Há casos de verdadeira pobreza e até miséria, que fogem, por vezes, à nossa atenção.
Passados estes meses, já começamos a notar alguns frutos. O grupo de acção já está a tornar-se mais sólido. Há um grupo de pessoas que já têm encontros de formação regularmente. a ideia é dar uma primeira formação teórica, na qual se explica o sentido de saúde e de pastoral. Formamos as pessoas para que nos possam ajudar a inserir os doentes na actividade pastoral normal da paróquia e ajudar os doentes a não se sentirem excluídos da comunidade. Pretende-se também dotá-los de um conhecimento mínimo de enfermagem. Deste modo evitam-se viagens aos doentes a caminho dos hospitais e esperas intermináveis nos corredores para resolver problemas mínimos, como podem ser os curativos ou as injecções. Conhecimentos acerca de uma alimentação correcta e alternativa fazem parte dos objectivos desta formação, assim como a medicina alternativa (com plantas).
Os casos de solidariedade já começam a aparecer. Muitos dos núcleos descobriram as pessoas mais necessitadas da sua zona e estão a partilhar o que têm para aliviar as dificuldades. a realidade, porém, vai muito além das reais capacidades das pessoas. Quanto mais entramos nos problemas, maior é o número de situações e de pessoas necessitadas que encontramos. Não poderemos ajudar a todos – nem Jesus curou todas as doenças e doentes do seu tempo com os seus milagres. Sabemo-lo bem. Mas é difícil não poder ajudar quem sofre. é uma coisa que magoa por dentro.
Estamos ainda muito longe de ver realizar o nosso sonho. até porque os fundos de que dispomos são nulos. Por outro lado, aqui tudo o que não implique a aplicação de cimento tem dificuldades para encontrar financiamentos. as pessoas gostam de deixar coisas visíveis, como para poder dizer: “Eu fiz”, “Eu é que sou”. E, se for possível deixar uma placazita com o nome, tanto melhor. Ora, placa gravada é coisa que não podemos fixar num doente, muito mais se já tem idade e os dias contados. Mas uma hora de vida, sempre é vida.
O sonho realiza-se a partir das pessoas e da pobreza local. E já começa a dar frutos. O primeiro dos quais é a descoberta de que não estamos sozinhos e de que todos podemos fazer alguma coisa para mudar este mundo. é necessário ajudar quem precisa hoje, porque amanhã posso ser eu a precisar de ajuda.com esta ideia, vamos fazendo o possível. O mais importante é poder levar um gesto de amizade e de humanidade àqueles que a sociedade vai pondo à margem. Quando não estamos sozinho, o sofrimento é menos amargo.