No Espaco Criativo Irmã Leonildes são atendidas 220 crianças de 4 a 16 anos, a quem são oferecidas actividades que previnem o envolvimento com droga ou exploração.
No Espaco Criativo Irmã Leonildes são atendidas 220 crianças de 4 a 16 anos, a quem são oferecidas actividades que previnem o envolvimento com droga ou exploração. Quem vê aquelas crianças e adolescentes sorrindo, brincando no pátio e correndo nas salas da antiga Casa João XXIII, no Centro, nem desconfia que aqueles garotos e garotas já enfrentaram situações de grande risco social. Boa parte das meninas, por exemplo, já foi vítima de abuso sexual. Os meninos, vários deles, estiveram na rua pedindo dinheiro ou vigiando carros e motos nos estacionamentos.
Esses meninos e meninas fazem parte do Espaço Criativo Irmã Leonildes, que funciona numa área onde antes se chamava Casa João XXIII, ao lado da Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo. a história da entidade começou assim, em 1998, como uma alternativa imediata de tirar das ruas quatro garotos que, para justificar a esmola, vigiavam carros em estacionamentos públicos.
Hoje a semente já deu frutos e 220 crianças e adolescentes de 4 a 16 anos estão a ser assistidos, graças às parcerias. a maioria veio de famílias desestruturadas e, boa parte, com pais envolvidos em estupefacientes ou cumprindo pena por tráfico. Se não estivessem no Espaço Criativo, com certeza já teriam entrado para o submundo das drogas ou, quem sabe, explorados sexualmente.
O idealizador da associação Espaço Criativo Irmã Leonildes é Tarcí­sio Vital do amaral, hoje presidente da entidade, que decidiu tirar os quatro garotos dos estacionamentos, mas desde que houvesse uma alternativa para eles. Foi então que surgiu a ideia de criar a entidade.
Inicialmente, levou os meninos para treinar capoeira na praça Capitão Clóvis, mas sentiram-se insultados por taxistas que ironizavam: “Estão ensinando esses meninos a serem pilantras”. O olhar de preconceito lançado sobre a actividade o levou a procurar outro lugar.
Ele disse que, no princípio, a meta era tirar as crianças das ruas. Mas essa meta ampliou-se e o objectivo hoje é agir preventivamente para evitar que as crianças e adolescentes cheguem às ruas, se envolvam com drogas e prostituição infantil.
Não há segredo para alcançar estas metas. Se o lugar de crianças é na escola e brincar ajuda a construir seu mundo, então no Espaço Criativo durante as duas horas diárias, nos dois turnos, as actividades são direccionadas para vários tipos de brincadeiras e actividades desportivas.
as crianças de 4 anos de idade, por exemplo, têm uma brinquedoteca, onde se trabalham a leitura e as brincadeiras lúdicas. E quem coordena o local é uma adolescente que começou como associada do projecto ainda criança. aliás, algumas das actividades são coordenadas por adolescentes e jovens que entraram ainda crianças. Para as crianças de mais idade e os adolescentes existem aulas de capoeira, karaté, futebol, vôlei, pingue-pongue e matraquilhos. Há ainda algumas aulas que visam a aprendizagem, como bordado, croché e pintura, ministradas pelas Irmãs apóstolas de Cristo, que trabalham como voluntárias do programa. a associação Hien Kan é parceira nas aulas de karaté, assim como o Grupo Senzala, que coordena as turmas de capoeira. Os parceiros que ajudam a manter o Espaço Criativo são a Diocese de Roraima, as irmãs Missionárias da Consolata e recentemente a associação Canarinhos da amazónia.
as irmãs da Consolata sentem-se mais motivadas ainda a contribuir porque o nome do espaço é uma homenagem a uma delas, irmã Leonildes, 85 anos, que está viva e inclusive já trouxe a família da Itália para conhecer a entidade.
“O trabalho foi crescendo e as comunidades foram se aproximando, surgindo voluntários e parceiros”, disse Tarcí­sio Vital ao relembrar as dificuldades e grandes barreiras que surgiram no começo. Os desafios começaram quando precisaram de um local para oferecer as actividades.
assim que o trabalho iniciou, eles se instalaram provisoriamente na escola anjo da Guarda, que fica nos fundos da igreja Catedral Cristo Redentor.como perceberam que a Casa João XIII estava abandonada e se deteriorando, então o grupo decidiu ocupar as salas, mesmo não sendo a vontade de algumas lideranças da Igreja local, que estava vendendo todo o imóvel.
Como o Espaço Criativo se desenvolveu e começou a cuidar da casa, então a própria Diocese desistiu de vender o local e decidiu investir no projecto. “Nós até contribuí­mos para que a Igreja não vendesse esse local e se desfizesse de um património importante”, orgulha-se Tarcí­sio Vital.
Para participar nas actividades do Espaço Criativo são necessários alguns critérios, como estar em risco social, ser de família de baixo rendimento e estar frequentando a escola com regularidade e com bom aproveitamento. Estar na rua ou trabalhando basta para que a criança possa estar incluí­da nas actividades.
O programa atende principalmente crianças dos bairros Calungá (onde está localizado o Caetano Filho, o Beiral) e 13 de Setembro, onde há bastante crianças carentes. Mas há também gente do Pintolândia, na zona oeste da cidade. as crianças dos bairros mais afastados do Centro deixaram de frequentar as actividades do Espaço desde quando a Prefeitura de Boa Vista reduziu a gratuidade nos ônibus de 12 para 7 anos idade, com obrigação de estar acompanhados pelos pais.