Moçambique continua o seu esforço para sair da grave crise em que está submergido. Não é fácil, mas começam a ver-se sinais positivos por parte da economia e da própria vontade Política.
Moçambique continua o seu esforço para sair da grave crise em que está submergido. Não é fácil, mas começam a ver-se sinais positivos por parte da economia e da própria vontade Política. Dá mesmo a impressão que depois de tanto falar e prometer alguma coisa começa a mexer nesta parte do mundo. Há questão de uns dias atrás o presidente de Moçambique fez um discurso dirigido à assembleia da República no qual apresentava o relatório da sua visita às províncias do país. Neste discurso deu um puxão de orelhas aos membros do seu governo alegando estar cansado de encontrar pessoas que procuram esconder a incompetência atrás de desculpas convencionais e frases feitas.
Devo admitir que se começam a ver movimentos. antes de mais constatei, com imensa alegria, que começaram a tapar um buracos na estrada que da cidade da Matola dá acesso à cidade de Maputo.com alegria porque há dois anos que devo fazer este trajecto várias vezes por semana. ainda não é um tapete, no verdadeiro sentido da palavra, pelo menos já se começa a afastar o perigo de partir a suspensão do carro (também já bastante velhinho) ou de rebentar os pneus. Penso que nos dois anos que estou por aqui na metrópole é a primeira vez que vejo trabalhos de manutenção das estruturas significativos e além do mais sem serem realizados com fundos e companhias estrangeiras.
Outra notícia que muito me espantou foi de que em Nacala, principal (ou único) porto marítimo da zona norte do país, se inaugurou no dia 13 deste mês, esperemos que não traga azar, uma fábrica de cimento. Esta fábrica tem a capacidade de produzir 700 toneladas de cimento por dia e custou cerca de 12,5 milhões de dólares americanos.
Esta notícia do meu ponto de vista é positiva por quatro razões principais:
- O aumento da produção do cimento na zona norte vai inevitavelmente favorecer a baixa dos preços até agora praticados e assim contribuir para o desenvolvimento da zona mais pobre do país (aquela que as visitas estrangeiras nunca, mas nunca visitam). ao mesmo também os privados terão mais facilidades em melhorar as próprias casas e consequentemente as condições de vida e de saúde.
- Esta fábrica criou cerca de 300 novos postos de trabalho, o que num país com pouquíssima industria e onde cerca de 80% da população vive de uma agricultura de subsistência, é um número significativo.
- Esta fábrica foi financiada, segundo as notícias oficiais, com fundos nacionais. Isto significa que não ouve investimento estrangeiro, mas foi realizada com investimento nacional e através do crédito bancário. Este ponto é importante por duas razões. a primeira é que os moçambicanos começam a acreditar nas próprias capacidades e já não precisam daquela atitude, quase cultural, do pedinte, que está sempre à espera que alguém faça ou dê. a segunda é que o dinheiro existente no país (independentemente da proveniência e da maneira como foi arrecadado) começa a ser investido no país em vez de ser encaminhado para os bancos da Suíça. Certamente o dinheiro investido no país para aumentar a produção nacional e os postos de trabalho mitiga os efeitos devastadores da corrupção. Se os corruptos investem no próprio país em favor do desenvolvimento (ainda que com a finalidade de enriquecer mais) do meu ponto de vista, fazem menos mal do que se exportarem os valores para outros países.
- O aumento da produção nacional começa a dar golpes no monopólio das importações que está nas mãos de um pequeno grupo da sociedade. Os comerciantes são o grupo social mais poderoso deste país, logo a seguir aos políticos,. a maioria deles são pessoas nascidas neste país, mas muito ligados aos países de proveniência dos seus pais ou avôs. Muitos deles não investem os lucros neste país mas depositam-nos no país de origem da própria família. Por aqui são conhecidos com alcunhas como “indianos”, “meio-nacionais” etc. São nacionais de Moçambique mas não se identificam com esta nacionalidade e estão ligados, do ponto de vista afectivo e económico, aos países de origem. Certamente este fenómeno é devastador para a economia do país. Não somente a maioria dos bens de consumo provêm do estrangeiro, como também os lucros comerciais vão parar ao estrangeiro. além do mais o comércio neste momento carece de uma fiscalização eficaz. São muitos os comerciantes que escapam ao fisco e além do mais podem praticar os preços que bem entendem. Não é raro em Maputo ao mudar de loja encontrar o mesmo artigo com uma diferença de preço que pode chegar aos 100%.
Portanto se estes são sinais verdadeiros e duradouros bem vindos, também porque se começa a sentir um mal-estar social causado pelos recentes aumentos dos combustíveis e consequentemente dos transportes públicos. Muitas famílias estão em grave dificuldade económica, sobretudo tendo em conta a dificuldade de encontrar trabalho e o número limitado de escolas que obriga a deslocações por vezes a grandes distâncias. Nestas últimas semanas já várias vezes a policia teve de intervir para controlar manifestações populares que se foram formando espontaneamente nas paragens dos transportes semi-colectivos.