Os países ricos suprem à falta de cidadãos jovens procurando em África os futuros motores da sua própria economia e sobrevivência. Eles ficam mais ricos, a África mais pobre.
Os países ricos suprem à falta de cidadãos jovens procurando em África os futuros motores da sua própria economia e sobrevivência. Eles ficam mais ricos, a África mais pobre.
Quando viajo por Nairobi, especialmente junto a escolas secundárias e universidades, deparo-me com grandes quadros publicitários que convidam a juventude queniana a ir estudar para o estrangeiro, austrália, Nova Zelândia e assim por diante.
Pareceria que os países ricos se tornaram agora benfeitores do sistema educativo deste país, especialmente ao nível universitário. Mas não é bem assim. Esses países sabem que mais de 90 por cento dos jovens que vão estudar para o estrangeiro não voltam ao Quénia para exercer a sua profissão e contribuir para o progresso da sua gente. Ficam no país onde estudaram.
Sendo o Quénia um país de língua inglesa e membro do commonwealth, a mudança comporta poucos inconvenientes, e assim os melhores cérebros daqui emigram para estudar e vão enriquecer ainda mais os países ricos.
Existe nisto uma verdadeira caça às melhores capacidades locais. Quanto é bom e barato encontrar um jovem ou uma jovem já prontinhos para a universidade e dar-lhes apenas aquele pequeno toque para os separar para sempre da terra que os criou.
Pergunto-me porque é que esses países benfeitores não manifestam a sua bondade construindo e gerindo escolas e universidades neste país? Porque é que enviam delegações para os grandes hotéis de Nairobi com a finalidade de entrevistarem possíveis candidatos ao ensino superior e acenarem aos melhores com bolsas de estudo e outras regalias?
é de facto uma verdadeira caça ao tesouro, mas um tesouro com cabeça, tronco e membros. é uma caça aos melhores cérebros.
Certamente as pessoas, e os jovens em particular, têm direito a uma vida digna e próspera, mas se para dar mais possibilidades a alguns se reduzem as possibilidades da grande maioria, há que dizer que com tais ajudas a África não fica beneficiada. De pouco servirá a ajuda internacional e o perdão da dívida se não nos ajudarem a criar uma classe média capaz de manter e tornar consistente a fábrica social. ”
De que nos serve clamar por saúde se os nossos médicos e enfermeiros exercem em Londres ou em Nova Iorque? Ou por escolas se os nossos melhores professores ensinam no estrangeiro?
ao convite feito aos quenianos, “Vem estudar para a austrália” eu contraponho um desafio aos australianos e a todos os amigos da África, “vinde ajudar-nos a criar em África as estruturas que nos libertarão”.