Vão para o lixo um milhão de toneladas de alimentos por ano em Portugal. é a conclusão a que chegou o projeto de investigação PERD a – Projecto de Estudo e Reflexão sobre Desperdí­cio alimentar
Vão para o lixo um milhão de toneladas de alimentos por ano em Portugal. é a conclusão a que chegou o projeto de investigação PERD a – Projecto de Estudo e Reflexão sobre Desperdí­cio alimentarNão sendo propriamente uma novidade a falta de hábito dos portugueses na boa gestão alimentar, a verdade é que também não deixa de ser chocante. O projeto PERD a foi desenvolvido pela Cestras (Centro de Estudo e Estratégias para a Sustentabilidade) e o relatório global será apresentado na próxima quinta-feira, em conferência que irá decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. O desperdício estimado corresponde a 17 por cento do que o país produz para consumo humano, de acordo com o estudo que pretendeu avaliar o ciclo dos alimentos desde a produção ao processamento industrial, até à mesa dos consumidores, a última etapa onde se registam os maiores desperdícios.

Este primeiro estudo nacional, liderado por cinco investigadores que avaliaram o comportamento dos portugueses, revela que cada cidadão desperdiça em média 98 quilos de alimentos por ano (um total anual de 1. 031 milhões de toneladas). Em Portugal, o maior desperdício alimentar verifica-se na fase final do consumo, ou seja, vai para o lixo grande parte do que compramos para comer. Muitas vezes, as chamadas sobras, são um reaproveitamento alimentar que acaba por se deitar fora. Os produtos hortícolas e os cereais lideram a lista dos desperdícios.

O relatório adiantado na imprensa de ontem, nomeadamente no Expresso e Público, deixa várias recomendações aos consumidores, produtores, indústrias, mas também ao Estado, apontando o objetivo de reduzir para metade os desperdícios até 2025. De acordo com números avançados pela Organização das Nações Unidas para a agricultura e alimentação (FaO), citadas pela associação Portuguesa de Direito do Consumo, todos os anos são desperdiçadas 1,3 mil milhões de toneladas de comida, 33 por cento de toda a alimentação produzida anualmente.

Em comentário feito pelo porta-voz da Conferência Episcopal, p padre Manuel Morujão considerou o desperdício alimentar como um crime contra aqueles que estão a passar mal, sublinhado que há inércia e falta de iniciativa para rentabilizar o que sobra. Sendo a alimentação um assunto de emergência nacional, porque há franjas da nossa população que sabem que a palavra fome não está no dicionário a mais, mas é uma experiência viva que sentem, todo o desperdício é de alguma maneira um crime contra aqueles que estão a passar mal sobretudo nestes tempos de crise. Manuel Morujão fez notar que em Portugal já existem já boas iniciativas de combate ao desperdício, nomeadamente nos restaurantes, defendendo o reforço do investimento nesta área. Há já belas iniciativas daqueles que recorrem a restaurantes e outras casas de alimentação para darem depois (as sobras) a obras de assistência social, cantinas, refeitórios sociais e, muitas vezes, levando a alimentação à casa das pessoas que são conhecidas como tendo necessidades alimentares, disse.

O projeto da PERD a propõe uma estratégia para mudar os comportamentos das famílias portuguesas e que passa pelo planeamento de compras e menus, informação sobre armazenamento, escolha de embalagens com a quantidade adequada para o número de familiares, atenção aos prazos de validade e utilização das sobras das refeições. São iniciativas desta natureza que devemos aplaudir, pois apesar de ser uma gota no oceano de privações, poderá contribuir para criar uma mentalidade mais aberta e racional na forma de encararmos as necessidades do dia a dia.