a crise económica na Europa já se faz sentir no trabalho dos missionários da Consolata, espalhados pelo mundo. as ajudas diminuíram e em muitos países os governos estão a deixar de reconhecer a dimensão social do serviço religioso
a crise económica na Europa já se faz sentir no trabalho dos missionários da Consolata, espalhados pelo mundo. as ajudas diminuíram e em muitos países os governos estão a deixar de reconhecer a dimensão social do serviço religiosoEm declarações à Fátima Missionária, Rinaldo Cogliati, administrador geral do Instituto Missionário da Consolata (IMC), diz que, cada vez mais, é preciso fazer uma missão inteligente e atenta às gentes mais pobres. Fátima Missionária Os cristãos europeus, que tradicionalmente contribuíam para ajudar os países mais pobres, estão a passar por um momento complicado de austeridade. Esta crise está a afetar o trabalho dos missionários? Rinaldo Cogliati Sim, tem-se sentido muito nas colaborações. Diminuíram os donativos para o Instituto e as ofertas para os projetos nas missões. Sempre procurámos sensibilizar quem mais tinha a ajudar quem tinha menos. agora, infelizmente, também por cá [na europa] há cada vez mais gente a ter cada vez menos. E não podem, por exigências reais, dar a mesma colaboração que davam antes. Lamentavelmente, os que concentram o capital nas suas mãos, às vezes são bastante insensíveis. E os projetos nas missões acabam por prolongar-se no tempo, porque o grupo que se comprometeu a financiar a escavação de um poço em África, por exemplo, em vez de conseguir o dinheiro num ano, pode demorar dois ou três anos. Sentimos isso no campo, nas bolsas para os estudantes ou nas ajudas para projetos na área da saúde. FM Quanto custa formar um missionário? RC Varia de país para país, mas custa uma média de 10 mil euros por ano. E a formação demora mais ou menos 10 anos. Tem que fazer filosofia, teologia e uma especialização. É tudo suportado pelo Instituto, graças à ajuda dos benfeitores. Se a família do missionário puder colaborar, colabora, mas em países da África e da américa Latina normalmente temos que ser nós a assegurar os gastos. FM Que diferenças existem entre um sacerdote missionário e um padre diocesano? RC Em todos os seminários diocesanos que conheço os estudantes têm que pagar os estudos, através da família ou de um grupo de apoio às vocações das dioceses. Depois, o sacerdote diocesano tem direito a uma remuneração que pode reservar para ele. Na vida religiosa não é assim; o missionário vive em comunidade e não tem direito a dispor dos seus bens. Pode dispor dos bens só até ao quarto grau de parentesco. Se o pai, a mãe ou a irmã lhe dão uma oferta, tem que pô-la na caixa comum e para utilizá-la precisa de pedir autorização ao superior da comunidade. Se uma pessoa lhe dá uma oferta, não a dá a ele, como sujeito, mas como missionário da Consolata. Ou seja, vai para a caixa comum, para os gastos e manutenção da casa. Essa é a grande diferença. O missionário não pode dispor desse dinheiro porque faz voto de pobreza, ao contrário do diocesano que faz promessa de pobreza. O voto é mais vinculativo que a promessa. Um diocesano pode ter conta no banco e comprar uma casa a título pessoal, por exemplo. Um religioso não. FM a conjuntura atual torna mais difícil manter as missões? RC Sim. Porque para além de escassearem os donativos, os governos, em geral, estão a tentar aplicar um montão de taxas à Igreja e a deixar de reconhecer a obra social. Mas ao mesmo tempo permitem que se criem seitas, fundações e ONG [Organizações Não Governamentais] com vantagens fiscais. Devia entrar-se a fundo em alguns destes casos para ver se o dinheiro que ali entra vai verdadeiramente para causas de maior humanização, para erradicar a pobreza.