O novo líder da China, Xi Jinping, tem pela frente um grande desafio. além das pressões internas para uma maior transparência do poder, tem que lidar com as tensões com os países vizinhos
O novo líder da China, Xi Jinping, tem pela frente um grande desafio. além das pressões internas para uma maior transparência do poder, tem que lidar com as tensões com os países vizinhos1. China e Japão têm trocado argumentos sobre a soberania das ilhas Diaoyu (Senkaku para os japoneses). Existe risco de uma guerra?O Japão controla as ilhas, desabitadas, desde a guerra sino-japonesa de 1895, mas a China considera ilegal essa posse. Os dois países usam argumentos vários para imporem a sua posição, mas a tensão atingida nos últimos tempos tem que ver sobretudo com o clima interno, com o discurso nacionalista exacerbado a resultar da era de mudança de líderes em Pequim e também da fragilidade do governo em Tóquio. Mas o bom senso acabará por impor-se, até porque uma guerra entre as segunda e terceira potências económicas do planeta seria desastroso para ambas e também para o resto do mundo. 2. a animosidade entre chineses e japoneses vem de trás?Sim, sobretudo da Segunda Guerra Mundial, quando o Japão invadiu a China. Pequim afirma que Tóquio nunca apresentou um pedido formal de desculpas pelas atrocidades cometidas contra o povo chinês pelo exército nipónico. 3. Há problemas de soberania de ilhas entre a China e outros países da Ásia Oriental, além do Japão?Dois casos: o das Spratleys e o das Paracels.com base numa tradição histórica, mas exibindo também a sua crescente força naval, a China está num braço de ferro com países como o Vietname, as Filipinas, a Malásia e até o Brunei. Em causa a exploração dos fundos marinhos, talvez com petróleo, e dos bancos de pesca. O interesse geopolítico é também grande por parte de uma China que quer controlar os mares adjacentes. 4.com Taiwan é agora remota a possibilidade de uma guerra?É remota porque os atuais governantes da ilha que Pequim considera uma província renegada já garantiram que não vão proclamar a independência. assim, apesar de separadas desde o fim da guerra civil chinesa em 1949, tanto a China continental como Taiwan mantêm-se fiéis à ideia de uma só China. Do ponto de vista das relações económicas, a ligação é tal que seria desastroso qualquer tipo de conflito, até porque os Estados Unidos têm um compromisso com a defesa de Taiwan em caso de guerra. Mais cedo ou mais tarde, porém, Pequim pressionará com o tema da reunificação e, nesse caso, a tensão pode subir, até porque os taiwaneses recusam a fórmula de um país dois sistemas aplicada em Hong Kong e Macau. 5.como está a relação com a Rússia e a Índia?No passado, houve clara tensão e até troca de tiros na fronteira siberiana com a União Soviética e se havia conflito ideológico entre duas potências comunistas, também se notava problemas territoriais mal resolvidos. Hoje, com a Rússia no lugar da União Soviética, parece cenário afastado um novo conflito no rio amur. Já com a Índia, apesar das reivindicações cruzadas de território, o momento é de cooperação económica e nova guerra nos Himalaias como a de 1962 é impensável. 6. Os Estados Unidos são o maior obstáculo à afirmação de poder chinês na Ásia Oriental?Sim, até porque têm desde a Segunda Guerra Mundial tropas na região, sobretudo no Japão e na Coreia do Sul. 7. Que factor imprevisível pode gerar uma crise séria nessa parte do mundo?O maior risco parece ser uma Coreia do Norte nuclear e faminta, com uma liderança que dá sinais contraditórios aos vizinhos. a China, como tradicional aliada, tem obrigação de pressionar Pyongyang a ter uma atitude construtiva. 8. Do ponto de vista interno, Pequim tem os separatismos sob controlo? a situação no Tibete é aquela que gera mais preocupação aos líderes chineses devido ao mediatismo do Dalai Lama, o líder espiritual exilado dos tibetanos. Mas com o povoamento por chineses de etnia han, Pequim reforça a sua soberania sobre o território. Já o Xinjiang, com os seus separatistas uigures, é mais discreto como problema, mas também mais complexo, porque o factor extremismo islâmico entra também em jogo. De qualquer forma, não existem riscos sérios de fragmentação da China por causa dos separatismos vários.