O jornalismo tem-nos dado más notícias sobre o jornalismo: fecham publicações, jornalistas são despedidos, as audiências baixam, a publicidade também, os títulos em papel passam a existir apenas na sua forma digital
O jornalismo tem-nos dado más notícias sobre o jornalismo: fecham publicações, jornalistas são despedidos, as audiências baixam, a publicidade também, os títulos em papel passam a existir apenas na sua forma digital a própria profissão parece estar em perigo: numa altura em que todos podem dar notícias sobre o mundo, através da internet, será que ainda faz sentido haver jornalistas e pagar pelas notícias que lhes dão o salário?Thomas Jefferson, o terceiro presidente dos Estados Unidos, numa conhecida expressão sobre a imprensa, comentava que entre um governo sem jornais ou jornais sem governo, não hesitaria em escolher a segunda solução. Na realidade, as informações e as opiniões divulgadas pelo jornalismo fazem, desde a invenção da imprensa, parte integrante da própria história política moderna e, em particular, das democracias. Informar ou gritar mais alto?Claude-Jean Bertrand, um investigador francês que fez grande parte da sua carreira académica nos Estados Unidos, sustentava que o jornalismo não era necessário em regimes ditatoriais, porque estes reduziam-no à sua expressão propagandística. Muitos foram e são os que sofreram e sofrem pela perseguição das suas opiniões, pela veracidade dos factos que relataram, pelos ideais e a fé que divulgaram, por vezes com o sacrifício da sua própria vida, contra inquisições, ditaduras e autoritarismos que nos quiseram impor verdades que hoje consideramos ridículas. a quantidade de conteúdos que atualmente está disponível nos diferentes meios de comunicação leva-nos a desvalorizar a informação. Tornámo-nos mais desatentos, confundimos informação com divertimento, não sentimos a informação como um bem necessário e, muito menos, estamos dispostos a pagar pelo seu custo. Por seu lado, a liberdade de expressão e de imprensa funciona hoje apenas numa lógica lucrativa e de empresa: a procura de públicos e de publicidade faz-se recorrendo a conteúdos mais superficiais, com mais espetáculo e com menos reflexão. O espaço público, em que as pessoas discutem sobre a vida comum, tem-se tornado cada vez mais desinteressante, transformado que está numa imensa praça, onde a verdade se confunde com o que se grita mais alto. Media e democraciaOs estudos de opinião têm demonstrado que a perda de leitores dos jornais, que se verifica desde os anos 60, tem sido concomitante a um crescendo desinteresse e descrédito das pessoas pela vida pública. Quem não se interessa pelo que nos é comum, por que razão se deve preocupar com a informação relevante para a vida pública?Na realidade, o que a crise do jornalismo não pode deixar de nos interpelar, a jornalistas, a proprietários dos media, a leitores e audiências é sobre a crise dos valores públicos, da cidadania e da participação política, religiosa, cultural e social. É, no fundo, a crise da própria democracia. E se hoje vivemos preocupados sobre que futuro económico deixaremos aos nossos filhos, não nos podemos esquecer que é sobre o legado dos valores políticos que eles construirão esse futuro.