a recolocação dos valores morais, culturais e espirituais é fundamental para a construção do futuro de Portugal. Para ultrapassar o dualismo entre o país idoso e o país jovem, para evitar o desgaste do tecido social, defendeu o professor Marcelo Rebelo de Sousa, na abertura do «Átrio dos Gentios», em Guimarães
a recolocação dos valores morais, culturais e espirituais é fundamental para a construção do futuro de Portugal. Para ultrapassar o dualismo entre o país idoso e o país jovem, para evitar o desgaste do tecido social, defendeu o professor Marcelo Rebelo de Sousa, na abertura do «Átrio dos Gentios», em Guimarães O nosso sentido de vida tem-se pautado por atos vindos do que nos antecedeu. Só nos falta agora recolocar os valores, recolocar o espírito, recolocar o que falta no domínio da cultura vivida para construir o nosso futuro, afirmou esta sexta-feira à noite, em Guimarães, o comentador e professor universitário, Marcelo Rebelo de Sousa. Para o conferencista, que inaugurou a sessão portuguesa do Átrio dos Gentios, já não basta viver do passado, é preciso reconduzi-lo. Uma identidade é inseparável do sentido da vida, exige mais do que passado, convoca para o futuro, baseado inevitavelmente nos valores, adiantou Rebelo de Sousa, salientando com preocupação o esbatimento do fator religioso e espiritual e o grande défice nacional e europeu em relação ao valor da vida, o principal tema em discussão neste encontro. Segundo o especialista, tem-se assistido a uma rápida secularização que remete as manifestações de fé para os espaços privados e à conversão do catolicismo num fenómeno estranho, maioritário em termos de história e de referência cultural e estatística, mas minoritário em termos de valores e comportamentos. Num país em que tem sido decisivo o papel de incontáveis instituições de solidariedade social de inspiração religiosa ou espiritual, na educação, na saúde, no apoio a crianças, jovens, idosos, portadores de deficiência, desempregados e excluídos, assistir-se a um apagamento dessa componente não deixa de causar perplexidade, disse Rebelo de Sousa. O comentador considerou essencial combater o fosso entre país idoso e país jovem, referiu que o Portugal letrado não pode sobrepor-se ao Portugal iletrado e apelou a um nova relação entre pessoas e poderes para fazer face à grave crise interna e externa que origina problemas de coesão nacional. O Átrio dos Gentios é um projeto do Conselho Pontifício da Cultura para promover o diálogo entre crentes e não crentes. Depois de passar por diversas cidades europeias, chegou ao nosso país, com sessões em Guimarães (ontem, 16 de novembro) e hoje, em Braga.