a Confederação Nacional das associações de Pais está claramente preocupada com a fome “que entra nas escolas” e chama a atenção para o número crescente de famílias em dificuldades
a Confederação Nacional das associações de Pais está claramente preocupada com a fome “que entra nas escolas” e chama a atenção para o número crescente de famílias em dificuldadesO presidente da CONFaP (Confederação Nacional das associações de Pais), albino almeida, afirmou durante a sessão do Conselho Geral daquela entidade, que decorreu em Cantanhede, a existência de uma classe média envergonhadíssima que se vê obrigada a pedir apoios de que antes não necessitava. apontou como motivo as “dificuldades” que atingem famílias que viram o rendimento disponível cair, mas não são elegíveis “para nenhum apoio” da ação Social Escolar (aSE). “É preciso dar confiança às escolas e às autarquias para que possam, caso a caso, resolver situações e dar às pessoas o apoio que se revelar mais importante para que os filhos continuem na escola” disse.

albino almeida referiu que as autarquias estão a ter um papel de “grande sensibilidade social”, frisando que não estão a ser divulgadas as listas com incumprimentos de famílias ao nível, por exemplo, do pagamento de refeições. Frisou também que a CONFaP fez uma proposta na assembleia da República para que as autarquias “definissem um valor de rendimento disponível das famílias”, através da obrigação destas apresentarem documentos que provem a sua situação, “para que possam passar a receber um dos apoios” previstos no escalão a da ação Social Escolar: transporte, alimentação ou manuais escolares.

Perante a crise que se alastra a todos os setores sociais, eis mais um aspeto importante que nos deve fazer refletir. Os jovens em idade escolar necessitam de um apoio mais substancial e que muitas vezes já falha a nível familiar, dado as carências com que muitos milhares de famílias se debatem. Há uma necessidade premente de rever toda a política do Estado em relação à família, independentemente de outras prioridades que este entenda estender ao indivíduo e/ou à sociedade em geral. Na base correta da economia de uma nação tem que estar a família, pois sem ela não há renovação de gerações e as suas consequências poderão ser negras para todos.

Outrora, quando a sociedade e o Estado ainda se regiam por valores positivos, foi possível ultrapassar necessidades recorrendo, não raro, à solidariedade individual. Hoje é preciso uma consciência coletiva muito forte para minorar este tipo de carências.como é evidente, o Estado não pode resolver todos os problemas, mas seria bom que nesta altura não criasse ainda mais outros. Infelizmente é o que se está a verificar. Continua a não haver lei adequada à proteção das famílias e não é por falta de conhecimento dos responsáveis. O que possivelmente está a faltar é a sensibilidade e força política para o fazer.

a história repete-se, só os mais esquecidos o ignoram. Recuemos 60 anos. após o fim da II guerra mundial (1939/45) Portugal debatia-se com falta de estruturas, alimentos escassos e apenas acessíveis a lavradores e pessoas com poder económico. abundava a miséria e a fome, mas as crianças já iam à escola. algures, numa aldeia pobre do norte deste país, havia uma escola onde rapazes e raparigas aprendiam, da primeira à quarta classes da escola primária, e onde lecionava uma professora para todos. a docente constatou que havia muitos alunos que passavam fome. E que fez? Dialogou com os pais das crianças que tinham mais posses e convenceu-os a dar uma refeição por dia àqueles que não a tinham. Para muitos, era a única refeição que tragavam, de segunda a sexta-feira. Será que ainda há lugar para este tipo de solidariedade? Quando o Estado e as instituições falham, ainda há as pessoas de boa vontade. Não duvidemos!