é habitual no Quénia que os jornais ou a televisão noticiem actos de justiça, ou melhor dito de injustiça, popular. O que mais dói é que as autoridades não condenem nem investiguem tais actos.
é habitual no Quénia que os jornais ou a televisão noticiem actos de justiça, ou melhor dito de injustiça, popular. O que mais dói é que as autoridades não condenem nem investiguem tais actos. Há acontecimentos que, embora eu muitas vezes já espere o pior, me causam sempre muita dor e levantam graves questões. Ou sou eu que sou demasiado sensível?
Há dias uma televisão do Quénia mostrou um acto de justiça, chamemos-lhe vingança, popular aplicado a um indiví­duo acusado em altos gritos de ter roubado um telemóvel. O desgraçado foi agredido a socos e pontapés até perder os sentidos. Foi depois regado com petróleo e queimado vivo. a multidão aplaudia.
O facto de as imagens serem transmitidas no telejornal parece-me significar que a violência e o assassínio se estão tornando questões de ordinária administração. é raro neste país que a polícia prenda alguém por roubo ou violência. O habitual é que a pessoa ou pessoas sejam justiciadas pelos próprios agentes da autoridade sob pretexto de serem perigosos e estarem armados. Não admira pois que o povo tenha tomado o gosto a este tipo de solução final.
Penso às vezes que estamos num país de desesperados onde as pessoas se vêem obrigadas a recorrer a soluções extremas por terem perdido toda a confiança na administração da justiça. Isto porém leva a lamentáveis excessos, e quando depois se ouve falar de lutas tribais que semeiam morte e desespero todos se admiram que tal tenha sucedido entre pessoas tementes a Deus.
Centenas de milhares de quenianos, especialmente nas grandes cidades, vivem de pequenos expedientes e quando podem descarregar toda a sua frustração sobre um pobre desgraçado não se fazem rogados. O que é pena é que não se levantem vozes de protesto, que não haja uma investigação oficial, que se ignorem as causas de tanta ferocidade.
Eu próprio me pergunto se não toca a nós missionários protestar em alta voz mesmo que isso signifique sermos catalogados como resí­duos de um colonialismo obstrucionista. Por agora são coisas que acontecem nos bairros da lata e em zonas degradadas e de excessiva densidade habitacional. amanhã poderão generalizar-se.
Na liturgia destes dias Jesus dizia: “Vinde a mim que sou manso e humilde de coração”. Mas quem é que o ouve hoje em dia?