Que importa fazer agora, em memória a amílcar Cabral e ao bispo Settimio arturo Ferrazzeta, pergunta o embaixador Mário Leopoldo Cabral, de Itália.
Que importa fazer agora, em memória a amílcar Cabral e ao bispo Settimio arturo Ferrazzeta, pergunta o embaixador Mário Leopoldo Cabral, de Itália.
a Guiné-Bissau, no limiar de um período de transição que foi o que foi possível ser, está a viver um dos momentos mais complexos, delicados e incertos da sua história. Pertencendo ao grupo dos guineo-optimistas, auguro mais do que espero, que o resultado final seja positivo, pedagógico e durável, diria mesmo sustentável. Para que tal aconteça, seria indispensável que todos, mas todos, os actores sociais e políticos, que cada cidadão, homem ou mulher, fizesse recurso ao seu bom senso, à sensatez e “metesse a sua boca”.
O que nos espera na contracurva histórica, pode ser tão bom ou tão desastroso, que ninguém poderá ou pelo menos não deveria, alhear-se do que se cozinha nos diferentes “fugon” que existem e se multiplicam, com o aproximar da data das eleições, acto que a comunidade internacional insiste e persiste em considerar, terapia incontornável. a tendência natural do cidadão comum é dizer, que não se mete na Política. O que as pessoas ainda não perceberam ou fingem não entender, é que a Política se mete connosco, quer sejamos ou não actores políticos, participantes ou não, na sua gestão corrente.
Que fazer face à importante decisão tomada pelo Supremo Tribunal de Justiça, perante uma mão cheia de candidaturas, a mais numerosa de sempre da nossa história, mais numerosa do que seria normal e racional esperar, muito mais do que seria necessário para uma decisão ponderada e esclarecida do eleitor? Quer-me parecer, que é urgente modificar a legislação eleitoral, dado que o contexto que fundamentou a sua elaboração, há mais de uma década, não é mais de actualidade. as facilidades então introduzidas, para promover o aparecimento de partidos e candidaturas, está desadaptada tanto mais que, dizem, tem sido indevidamente aproveitada, tanto como fonte de emprego, de jogo de influência mal sã e mesmo para desestabilização.
as decisões do Supremo Tribunal de Justiça quanto às candidaturas presidenciais foram certamente as mais complexas e delicadas de sempre, tendo em conta os interesses tão diferentes quão contraditórios em presença. Era pois absolutamente normal que pudesse não satisfazer nem a gregos nem a troianos ou aos dois simultaneamente, ou seja, às 21 candidaturas registadas. assiste-se agora a um debate aparentemente pouco democrático, eivado de insultos e de extremismos que, seguramente, não beneficiam nem o reforço da cidadania guineense, nem a necessária unidade, coesão e solidariedade nacionais, nem a busca de consensos estimuladores da construção da nação que a todos pertence e que devemos legar enriquecida, às gerações vindouras.
Numa análise, distante e optimista penso que, para além da educação cí­vica que precede todo o acto eleitoral, se deveria, tão cedo quanto possível, promover um debate nacional sereno, moderado, civilizado, elevado, consensual, sobretudo com gente experiente e distante das lides políticas quotidianas, não necessariamente apolíticas, que pudessem representar além das instituições, a sociedade civil, as associações de base, os diferentes grupos de acção e de pressão. O debate deveria continuar em pequenos Círculos, em todo o território nacional, visando um fim pedagógico assumido, visto que a decisão do Supremo Tribunal entra, a bem ou a mal, para a História e fará jurisprudência. Por isso importa, debatê-la, vulgarizá-la e assimilá-la. Trata-se da decisão vinda do cume da pirâmide do poder judicial ao qual devemos aderir, salvo se quisermos pôr em causa os compromissos temporais estabelecidos, para a realização do escrutí­nio. Há que pensar, num futuro próximo, na criação de um Tribunal Constitucional mas… ainda teremos que esperar por muitas chuvas quiçá, depois das eleições autárquicas que os políticos teimam em adiar. Não podemos pensar num recurso aos tribunais regionais e internacionais dado o facto dessas instituições ainda não estarem habilitados a dar respostas a tais situações. Impõe-se respeitar e tentar compreender o substrato e as fundamentações dos acórdãos.
Oxalá que haja ideias novas e brilhantes, que visem aproximar os guineenses, elevar a sua auto-estima e responsabilização, que se promovam actos que ajudem a todos e a cada um a compreender, que não estamos nem no fim da etapa, nem à beira do precipí­cio mas tão só, numa “kambansa” extremamente perigosa mas superável, como aconteceu tantas vezes ao longo da nossa gloriosa luta de libertação nacional. a marcha ascensional do processo democrático de construção de uma sociedade humana mais aberta, democrática e justa, em parte alguma decorreu de forma linear mas antes através de avanços e recuos, porque todos, conjunta ou isoladamente, devemos trazer o nosso contributo para caldear a cultura nacional, produto da sí­ntese da rica realidade multicultural guineense.
O que a Guiné-Bissau precisa como pão para a boca, é de paz, de segurança e de tranquilidade para poder sonhar e desenhar conjuntamente, o modelo de sociedade que melhor convêm ao desenvolvimento nacional, falando de uma só voz. é nesse quadro que todos e em especial o candidato a ser eleito para 1º Magistrado nacional, mais de que vencedor do escrutí­nio, deveria igualmente ser vencedor em relação à moral, à atitude e comportamento humano exibido pelos concorrentes, bem como dar garantias em relação à determinação em promover um projecto de desenvolvimento sufragado pelos eleitores. a nação não necessita de um caudilho, mas de um Presidente, de um “Homem Grande” de que se orgulhe e em quem se reveja, pela sua capacidade de apontar o caminho, mediar as divergências, harmonizar os poderes, dignificar, engrandecer, estimular o povo.
Se todos nós acreditarmos com convicção, na nossa capacidade como Homens e como Nação, daqui a um par de anos, recordaremos com saudade, de mais esta kambansa que hoje nos assusta e desfia. Estou plenamente convencido caros irmãos, compatriotas e amantes da Pátria de amílcar Cabral e de D. Settimio arturo Ferrazzetta, que uma porta escondida será encontrada para sairmos vitoriosos e engrandecidos, desta encruzilhada para que possamos proclamar, alto e bom som, como a nossa juventude nos anos primeiros da reconstrução nacional, BaPUR K a N a N’KaDJa.
Podem ter a certeza que a comunidade internacional nos compreenderá e nos ajudará, se nos ajudarmos a nós mesmos, acautelando as intromissões interiores e exteriores.