a 6 de novembro, os americanos decidem se querem o democrata Barack Obama mais quatro anos na Casa Branca ou se preferem dar uma oportunidade ao republicano Mitt Romney
a 6 de novembro, os americanos decidem se querem o democrata Barack Obama mais quatro anos na Casa Branca ou se preferem dar uma oportunidade ao republicano Mitt RomneyO favoritismo como é tradicional pertence ao presidente cessante, cujo legado no caso de Obama ficou, porém, aquém das enormes expectativas de quem saudou a sua eleição como primeiro líder negro da américa e grande arauto da mudança. O resto do mundo não vota, mas não fica indiferente ao que acontece na primeira potência económica e militar do planeta. 1. É provável a reeleição de Barack Obama como Presidente dos Estados Unidos?Sim, tendo em conta as sondagens que ao longo do ano mostraram sempre o atual inquilino da Casa Branca com dois a três pontos percentuais de vantagem sobre o republicano Mitt Romney. além disso, e tendo em conta o sistema eleitoral americano, a vantagem de Obama, um democrata, num estado–chave como o Ohio, também indicia que seja ele o vencedor das eleições marcadas para 6 de novembro. Contudo, Romney ainda pode surpreender, até porque no primeiro debate televisivo com Obama, a 3 de outubro, emergiu como vencedor e deu nova dinâmica à sua campanha, começando mesmo a surgir à frente em alguns inquéritos de intenção de voto. 2. Que legado tem Obama para mostrar ao eleitorado? a vitória de Obama em 2008 gerou muitas esperanças, não só na américa como mundo fora. Mas o brilhantismo intelectual do primeiro negro a tornar-se Presidente dos Estados Unidos não foi suficiente para impor toda a sua agenda política. Do ponto de vista interno, a recuperação económica foi demasiado lenta, enquanto a oposição extremada do Partido Republicano no Congresso impediu que se concretizassem em pleno projetos como a reforma do sistema de saúde, uma ideia de Obama que visa aproximar os Estados Unidos do serviço universal de saúde que existe na maioria dos países desenvolvidos. Já em termos de diplomacia, a ação presidencial tem também alguns pontos fracos, pois se cumpriu a promessa de retirar as tropas do Iraque, continua por encerrar o campo de prisioneiros de Guantanamo, onde suspeitos de terrorismo estão detidos desde 2001. 3. até que ponto são diferentes as propostas de Obama e Romney?Em teoria, ambos são políticos moderados, das alas centristas dos respetivos partidos. Por exemplo, a reforma do sistema de saúde idealizada por Obama para todos os Estados Unidos, inspira–se muito naquilo que Romney fez quando foi governador do Massachusetts. Mas para se impor nas primárias do Partido Republicano, onde se escolhia o candidato presidencial, Romney foi adotando um discurso mais à direita e acaba por encarnar agora um projeto conservador que se opõe a Obama em quase tudo, incluindo as transformações na saúde, que promete revogar assim que chegar à Casa Branca. 4. Que exemplos de diferenças se podem destacar entre os dois candidatos?Do ponto de vista da economia, Obama defende que o Estado deve estimular as empresas em crise, enquanto Romney defende que os setores débeis devem ter o destino que merecem. O democrata defende ainda que os ricos paguem mais impostos, enquanto Romney defende menos pressão fiscal de modo a dinamizar as forças do mercado. Já em questões morais, nenhum se opõe à pena de morte nem quer controlar a posse de armas, mas Obama defende que o aborto deve manter-se legal, enquanto Romney é favorável à sua ilegalização exceto nos casos de problemas graves de saúde ou de violação. 5. a religião dos candidatos conta muito para o eleitorado?Os Estados Unidos são um país onde a religião está muito presente nos discursos políticos e a verdade é que a matriz protestante se tem sempre imposto nas escolhas para a Casa Branca, com a exceção do católico John Kennedy em 1960. Obama que tem nome islâmico devido às origens quenianas chegou a ser acusado de praticar o islão de forma encoberta, mas na realidade é visto pela maioria dos americanos como membro de uma das igrejas protestantes e isso não o favorece nem prejudica. Já Romney é um mórmon, seguidor de um grupo religioso que chegou a ser perseguido, mas hoje é dominante no estado do Utah e conta com seis milhões de crentes no país. O mormonismo nasceu nos Estados Unidos no século XIX mas é visto por certos setores religiosos como uma seita e isso pode afetar a popularidade de Romney junto da chamada direita cristã republicana. Contudo, nada é definitivo na américa e a liberdade religiosa faz parte da tradição. E note-se que num país com mais de 50 por cento de protestantes, a maioria dos juízes do Supremo Tribunal, que interpreta a Constituição, é católica. 6. É surpreendente que os dois candidatos a vice-presidente sejam católicos?Não, até porque a escolha do vice tem por regra mostrar alguma complementaridade com o candidato à Casa Branca, seja regional, etária ou política. No caso, trata-se também de uma complementaridade religiosa, pois tanto o democrata Joe Biden como o republicano Paul Ryan são católicos. O facto de 25 por cento dos 310 milhões de americanos serem católicos é muito valorizado na campanha e além disso a minoria em crescimento acelerado, os hispânicos, também tem o catolicismo como fé. No caso de Ryan, o seu conservadorismo político também serve para equilibrar o centrismo de Romney. 7. Que particularidade tem o sistema eleitoral americano que possa influenciar o vencedor?Como os Estados Unidos são uma federação (foi esse o seu projeto desde a Declaração de Independência em 1776) toda a organização política visa dar peso aos 50 estados. assim, no Congresso, existe o Senado, onde cada estado tem dois eleitos seja qual for a sua dimensão, e a Câmara dos Representantes, que reflete o peso populacional. Nas presidenciais existe um colégio eleitoral de 538 membros, igual à soma dos cem senadores e dos 435 representantes, a que se juntam três delegados de Washington D. C. Em regra, o candidato mais votado num estado leva todos os grandes eleitores e o vencedor será quem conseguir pelo menos 270 a nível nacional. Ora, por duas vezes no século XIX e também em 2000 (quando George W. Bush ganhou a Casa Branca a al Gore) o mais votado em termos populares não foi o vencedor formal. 8. Para o resto do mundo fará muita diferença quem ganhe?Obama gera mais expectativa. aliás, logo em 2009, até recebeu o Prémio Nobel da Paz. Mas em termos de política externa, costuma haver coerência na Casa Branca, seja um democrata ou um republicano a governar. Obama, que sempre criticou a invasão do Iraque, apoiou uma intervenção militar na Líbia. Romney mostra-semais falcão em certas situações, como o projeto nuclear iraniano ou a guerra civil na Síria, mas é preciso não esquecer que foi a pomba Obama a mandar abater Ossama Bin Laden, o inspirador dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gémeas de Nova Iorque. 9. Há algum elemento curioso na biografia de Obama e Romney?Bem, Obama, de 51 anos, é filho de um queniano e viveu com a mãe na Indonésia. ajuda-o a perceber melhor o mundo, de certeza. Romney, de 65 anos, que como mórmon foi missionário na juventude em França, também tem certo cosmopolitismo e até conta nos antepassados com um bisavô que fugiu para o México para escapar à lei que proibia a poligamia nos Estados Unidos. Vale ainda notar que Obama fez uma pequena fortuna com os seus livros autobiográficos e tem duas filhas com Michelle, enquanto Romney, filho de um antigo governador do Michigan, é milionário e tem cinco filhos de ann.