Uma equipa multidisciplinar foi a amapá, no Brasil, para averiguar as denúncias de tráfico de pessoas. Encontrou «uma realidade gritante», aqui relatada pela religiosa Maria Irene Lopes, secretária da Comissão Episcopal para a amazónia
Uma equipa multidisciplinar foi a amapá, no Brasil, para averiguar as denúncias de tráfico de pessoas. Encontrou «uma realidade gritante», aqui relatada pela religiosa Maria Irene Lopes, secretária da Comissão Episcopal para a amazónia O município de Calçoene, na região nordeste do estado do amapá, Brasil, fica a 384 quilómetros da capital estadual. De acordo com os dados oficiais de 2010, vivem no município 8. 964 pessoas, distribuidas por uma área geográfica de 14 mil quilómetros quadrados. Os moradores da cidade vivem basicamente das atividades como a pesca, criação de búfalos, colheitas de frutas da floresta como o açaí, bacaba, tucumã, coco, cupuaçu, macaxeira, a extração do ouro no distrito de Lourenço, funcionalismo público e o comércio. a pesca e o garimpo são as principais fontes de renda para as famílias. Numa conversa com o grupo de adolescentes que se encontra aos sábados na comunidade Nossa Senhora da Conceição, foi destacado o esquecimento do poder público para com a cidade. Os jovens lamentam a inexistência de cursos universitários e empreendimentos que apresentem perspetiva de futuro para permanecer na cidade. Contam que se alguém deseja continuar a estudar após a conclusão do ensino médio precisa alugar um quarto na capital, Macapá. No entanto, nas famílias que não possuem condições financeiras, os jovens não podem continuar a estudar. afirmaram sentir vergonha da cidade pelo total abandono em que se encontra. a avenida principal, única que possui asfalto, está cheia de buracos. as demais ruas são de terra batida. Os adolescentes interrogam-se para aonde vai o investimento que vem para o município. Outra preocupação dos adolescentes é o índice alto de meninas que engravidam entre 12 a 15 anos. Desabafam que pela falta de perspetivas engravidam. acreditam ser a única alternativa para mudar, contudo muitos namorados não assumem o filho e os pais expulsam-nas de casa. as meninas reclamam que só elas aguentam as consequências enquanto o pai da criança parece que não teve participação. Questionados em relação à questão das drogas, são unânimes em afirmar que é grande a oferta na cidade. Uma adolescente contou que uma pessoa chegou até ela, apresentou a droga e disse: Você não quer trabalhar com a gente? Trabalhar com isso dá muito dinheiro, sabia? Ela desabafa: Claro, sem futuro para nós aqui, quem é fraco vai mexer com isso, mas sabemos que a vida é curta para quem se envolve com as drogas. a prostituição, próximo do local onde chegam as embarcações com os pescados, é outra das tristes realidades apontada pelos adolescentes. agravada pela a oferta de emprego para trabalhar na cidade do Oiapoque com propostas irrecusáveis, que acaba por transformar o sonho em drama, pois na maior parte das vezes são obrigadas a prostituírem-se em bordéis. as meninas que dão lucro são vendidas por valores significativos e levadas à cidade francesa de Caiena, de onde seguem para outros países. Os adolescentes sonham com dias melhores para a juventude e para Calçoene, pois segundo eles a inexistência de políticas públicas é total, desabafam que é crítico na questão da saúde, da cultura e do entretenimento. O que funciona razoavelmente é educação. Já o comerciante Benedito Cosme de Menezes acredita que não há poder público corrupto sem um povo que se deixa corromper. Ele crê que a nova geração que está com possibilidade de estudar possa ajudar da mudança da cidade, exigir e garantir os direitos.