Profissionais de saúde e Igreja têm um «desafio civilizacional»: humanizar a morte numa sociedade em que «o morrer passou para o hospital»
Profissionais de saúde e Igreja têm um «desafio civilizacional»: humanizar a morte numa sociedade em que «o morrer passou para o hospital»José Nuno Silva é capelão do Centro Hospitalar São João, no Porto, e assina uma obra que recolhe a sua tese de doutoramento, aprovada em janeiro, e que agora chega às livrarias. Numa sociedade em que o morrer passou para o hospital, o sacerdote acredita que o novo livro pode ajudar os profissionais de saúde a assumir uma tarefa com a qual não estavam a contar, a de humanizar a morte. Um processo que constitui um verdadeiro desafio civilizacional a que a Igreja tem de estar atenta, disse o autor em declarações à agência Ecclesia.

a sociedade voltou a entregar-nos a morte das pessoas, num tempo que não tem a arte de morrer, adverte o capelão hospitalar, há 14 anos nestas funções. Nos hospitais, em casa, ou nas instituições, o sacerdote considera que hoje se morre mal na sociedade portuguesa. José Nuno Silva recorda que muitos profissionais não foram formados para acompanhar esta etapa violenta e acredita que no hospital se estão a inverter caminhos de desumanização da morte.

a Igreja tem de compreender que não pode estar ausente e deve formar cuidadosamente os agentes que envia para o hospital, para que sejam parte integrante deste processo de recriação de uma arte de morrer. Isto é nova evangelização, explicou o sacerdote. Para este responsável, a Igreja tem um papel fundamental neste processo de reintegração da morte na vida das pessoas, porque é necessário tornar a significar a morte.

a Morte e o Morrer entre o Deslugar e o Lugar. Precedência da antropologia para uma Ética da Hospitalidade e Cuidados Paliativos é o nome da obra assinada pelo capelão, doutorado em bioética pela Universidade Católica Portuguesa (UCP) e especialista em investigação sobre esta matéria. O trabalho de José Nuno Silva foi orientado por arnaldo de Pinho, sacerdote e professor da UCP e diretor do Centro de Estudos do Pensamento Português, e Walter Osswald, investigador e docente universitário na área da bioética.