Franco Sordella, missionário da Consolata, recorda a história de um menino tanzaniano, de 12 anos, que foi buscar à prisão. abandonado pelos pais, nunca tinha ido à escola. acabou por juntar-se a um grupo de assaltantes e foi apanhado pela polícia
Franco Sordella, missionário da Consolata, recorda a história de um menino tanzaniano, de 12 anos, que foi buscar à prisão. abandonado pelos pais, nunca tinha ido à escola. acabou por juntar-se a um grupo de assaltantes e foi apanhado pela polícia Recentemente passei pelo gabinete das Ustawi wa Jamii (assistentes sociais), que me falaram de um adolescente com menos de 12 anos que estava na prisão há cerca de um ano e meio. Não souberam dizer-me muito mais a não ser que há documentos a pedir para lhe encontrarem um lugar mais seguro, porque ali está com os seus companheiros de rua, mais velhos, que o incentivam a fugir. Decidi aceitá-lo na Casa Faraja, um centro para crianças desfavorecidas, construído pelos Missionários da Consolata na aldeia de Mgongo, a poucos quilómetros da cidade de Iringa, na Tanzânia, porque, afinal, não passa de uma criança explorada e por isso não é justo deixá-lo nesse lugar nem mais um dia. Telefonei à assistente social e disse-lhe que dava acolhimento ao menino. Peço-lhe que avise o pessoal da prisão. No dia combinado, partimos para ir buscar o menor. Fizemos 359 quilómetros. O cárcere parecia uma fortaleza daquelas que se veem nos filmes. a cor predominante era o cinzento sujo velho. a mulher que nos acolheu, sorridente mas com ar cansado, mostra-nos o menino: um rapazito muito magro com uma sandália rota e a roupa não muito limpa, que dá pelo nome de Omar. Os outros olham de esguelha para nós. ao todo, são 27. Esta é uma espécie de prisão para os menores que estão à espera de julgamento. De vez em quando levam-nos ao tribunal, mas depois voltam sempre para aqui. Falo com eles, procuro quebrar o gelo e ouço dizer que alguns estão ali há já dois anos! Viva a justiça que defende os direitos da criança! Peço que me contem a sua história e como vieram ter aqui: todos respondem que foram presos por polícias, geralmente durante a noite, por vadiagem, exceto um jovem que me diz: matei o meu irmão. Quero saber mais a respeito da criança que fomos buscar: nos documentos está escrito que fazia parte de um bando de rapazes vagabundos e ladrões. Mas também que era explorado pelos mais crescidos. O menino está pronto para partir, com um saco nas mãos, com alguma roupa dentro. Fazemos uma despedida e partimos. Omar conta alguma coisa do seu passado, mas parece muito silencioso e sério; diz que vai connosco de muito boa vontade. Não sabe ler nem escrever: nunca foi à escola! O pai é alcoólico e sem casa para viver; a mãe, nativa de uma aldeia a 250 km, está em parte incerta. O menino fazia parte de um bando de ladrões, entre os quais alguns adultos, que trabalhavam em zonas e cidades distantes. Viveu algum tempo com a avó, em Iringa, mas voltou para o seu grupo. Tenho tantas perguntas a fazer-lhe, mas também eu me sinto triste: não me pediram nenhum documento nem sequer uma assinatura para o tirar da prisão. Para uma encomenda postal é o mínimo que se exige! Confiei-o a um rapaz mais velho para que lhe ensine o abecedário e comece a ir à escola. Olho para ele enquanto repete a,b,c: e vejo uma tristeza imensa naquele olhar! Qual a chave para uma boa solução? a mensagem da catequista Inês que me pede notícias de Guru! É agora uma menina sorridente e serena, caminha saltando e cantarolando, graciosa e diligente: ela pode ser um medicamento apropriado! Sofreu também ela o abandono, a pancada, a fome e o frio; viveu durante alguns meses com o medo de ver chegar a sua mãe. Confio-lhe Omar: tens que lhe ensinar a ler e a sorrir! Fica feliz com a proposta, pega-lhe pela mão e vimos o primeiro sorriso de Omar.