Durante anos, li, ouvi e escrevi sobre a missão. Uma missão que mudava de rosto rapidamente, seguindo os passos da sociedade e dos vários povos que gradualmente iam assumindo novos estilos de vida, enquanto estavam afrontando desafios sem precedentes
Durante anos, li, ouvi e escrevi sobre a missão. Uma missão que mudava de rosto rapidamente, seguindo os passos da sociedade e dos vários povos que gradualmente iam assumindo novos estilos de vida, enquanto estavam afrontando desafios sem precedentesEm 2008 foi-me concedido iniciar uma experiência missionária numa paróquia de cor da arquidiocese de Durban, na África do Sul. O termo de cor ainda é usado, qual resíduo da época do apartheid’ quando a sociedade sul africana era dividida de acordo com os vários grupos raciais que a compunham. De cor eram chamados todos aqueles que não pertenciam à raça branca, negra ou indiana. Eram os mestiços. Hoje há liberdade de movimento e relacionamento entre os vários estratos da sociedade, mas os reagrupamentos raciais ainda resistem. a paróquia é dedicada a São Martinho de Lima, em memória do santo mestiço peruano. Está localizada em Woodlands, zona periférica da cidade de Pietermaritzburg, capital da província do KwaZulu Natal. a comunidade católica é viva, consistente e rica de grupos e movimentos. ali, como noutras partes da África do Sul, a Igreja católica é uma força mobilizadora, tanto no campo da evangelização como no campo da justiça social. Estão presentes no território numerosas igrejas de várias denominações protestantes e carismáticas que frequentemente procuram alargar a sua área de influência recorrendo a um recôndito proselitismo ou a injustificadas acusações contra as outras comunidades cristãs. Neste contexto pouco ecuménico, pude compreender como é importante para a missão dos nossos dias trilhar os caminhos do diálogo, do conhecimento recíproco e da mútua compreensão. a fim de chegar a um maior entendimento e fraternidade entre as várias igrejas cristãs, demos início a encontros entre os ministros e pastores das igrejas da zona. Partindo de encontros mensais de conhecimento recíproco, de oração e escuta da Palavra de Deus chegou-se pouco a pouco à realização de atividades pastorais conjuntas, sobretudo no campo da educação da juventude. Empreenderam-se iniciativas comuns também no campo da educação para a vida, formação bíblica e momentos recreativos. a resposta dos diretores e responsáveis das várias escolas foi entusiasta. Um segundo campo de iniciativas ecuménicas consistiu em convocar as várias comunidades cristãs para uma oração em comum. Para respeitar as diversidades e peculiaridades de cada Igreja, realizaram-se encontros de oração baseados na Palavra de Deus, no canto e nos testemunhos de vida. Momentos fortes de encontro foram os da preparação da festa de Pentecostes e da celebração da Semana Santa. Na última celebração, entre 200 a 300 fiéis das várias Igrejas realizaram uma Via-sacra que percorreu as ruas do bairro, ilustrando com leituras bíblicas o mistério da morte e ressurreição de Cristo. Num domingo à tarde do passado mês de fevereiro fui convidado a dirigir a palavra a um bom número de fiéis das várias igrejas cristãs que assim quiseram iniciar o novo ano com um tempo prolongado de oração e reflexão. Estes momentos comuns de encontro e de oração quebraram o gelo da desconfiança e começaram a criar um clima mais aberto de respeito e confiança. Em junho, deixei a África do Sul para um novo serviço na Itália. No domingo da despedida da paróquia, todos os ministros da zona quiseram estar presentes na nossa igreja para uma saudação e um tempo de oração. Dou graças ao Senhor por me ter concedido experimentar concretamente como é precioso hoje o caminho do diálogo ecuménico e inter-religioso, e quanto é eficaz para dar à Igreja de Cristo o seu verdadeiro rosto, o rosto da fraternidade.