Bagamoyo é o berço da evangelização na Tanzânia e à volta dos grandes lagos. aqui foram resgatados muitos escravos e foi constituído o «Freedom Village», respeitador das crenças dos seus cidadãos.
Bagamoyo é o berço da evangelização na Tanzânia e à volta dos grandes lagos. aqui foram resgatados muitos escravos e foi constituído o «Freedom Village», respeitador das crenças dos seus cidadãos. Bagamoyo, a 76 km de Dar es Salaam e 35 do Consolata Mission Centre, será uma cidade ou uma aldeia? Era uma cidade famosa. Ferida e decadente, hoje pouco mais é do que uma aldeia. a sua história é significativa. Situada no litoral do Oceano Índico, apenas a 42 km de Zamzibar, com a sua baía, tornou-se no século XVIII o centro comercial mais importante da África Oriental. aqui aportavam os escravos provenientes do lago Tanganyika e do lago Vitória para serem trocados por pérolas, algodão e outros produtos. Eram depois embarcados para Zanzibar e vendidos nos seus mercados aos países árabes. Disso são conhecedores os missionários da Consolata que, chegando a Zanzibar em 1902 para prosseguirem rumo ao Quénia, resgataram dois meninos, a quem deram o nome de José e de Tiago. José chegou a padre. E que grande padre! Mais tarde tornou-se missionário da Consolata. Um grande missionário! Comércio dos escravos! Talvez que a própria palavra Bagamoyo tenha a raiz nesta triste realidade. Bwaga moyo, teriam dito os escravos à sua chegada à costa. Quer dizer: mata o teu coração. Esta sibilina expressão quereria significar: afasta qualquer esperança de fuga. És mercadoria de troca, não vales nada. agrilhoado de pés e mãos, caminhaste durante 1. 200 km, esfaimado, sedento e doente. agora vais atravessar o mar que para sempre te vai separar daquilo que tens de mais querido. Esquece a tua tribo, a tua família, a tua aldeia e a tua língua. Esquece-te de ti mesmo! Desta humanidade que feriu cerca de um milhão de pessoas é testemunha o museu junto da missão católica. Cepos, correntes, chicotes, fotos de escravos acorrentados pelo pescoço… são a memória de uma ignomínia passada. Mas não de todo. as escravaturas modernas não são menos opressoras nem menos desonrosas para a dignidade de cada pessoa. Bagamoyo é um cruzamento de história e dimensões. Constitui o anélito dos carregadores de caravanas que regressam das longas viagens. Bwaga moyo poderia também significar tira o peso do teu coração. É uma expressão de alívio após uma viagem fatigada. Está presente num dos seus cânticos: Sê feliz, minha alma, abandona as tuas preocupações. Logo chegarás ao lugar dos teus sonhos, a cidade das palmeiras, Bagamoyo. Estava longe e o meu coração gemia todas as vezes que pensava em ti, minha pérola, lugar de felicidade. Bagamoyo tem um rosto árabe: as pessoas, as casas, as portas embutidas, a velha fortaleza, lugar onde se esperavam os escravos antes de serem embarcados para Zanzibar. ali esperavam em celas estreitas e sufocantes. Bagamoyo era o ponto de partida dos exploradores. Os mais famosos, Stanley e Livingstone, passaram por aqui. O seu féretro aí repousou durante uma noite. Bagamoyo foi durante 10 anos a capital do então Tanganyika, colónia alemã. Restam algumas construções, decadentes; o correio, a alfândega, o depósito de armas, uma escola e um hospital construído por um filantropo indiano para acolher pessoas de qualquer raça e religião. Para aqueles tempos… é um humanismo estupendamente ecuménico! Bagamoyo é o berço da evangelização na Tanzânia e à volta dos grandes lagos. aqui foram resgatados muitos escravos e foi constituído o Freedom Village, respeitador das crenças dos seus cidadãos. Um empenho que se tornou estímulo para os movimentos antiesclavagistas. Da Bagamoyo missionária persiste um sugestivo cemitério. as campas indicam a idade dos missionários que aqui repousam: 27, 28, 29 anos. algumas vão mais além. Mas morrer jovem, vítima da malária e outras doenças tropicais, era normal. São semente daquela fecundidade eclesial, crescida de modo extraordinário nos seus 130 anos de vida na Tanzânia e na zona dos grandes lagos. Bagamoyo. Um último detalhe. É a capital do artesanato na Tanzânia. Jovens artistas que narram o passado e imaginam o futuro. Que seja de liberdade e de beleza, e não desfigurado pela brutalidade das várias formas de escravatura.