Maria Toledo, de 82 anos, é mais um exemplo das feridas profundas que a guerrilha tem provocado na sociedade colombiana. apesar de ter perdido quase toda a família, a mulher continua a procurar força para seguir em frente
Maria Toledo, de 82 anos, é mais um exemplo das feridas profundas que a guerrilha tem provocado na sociedade colombiana. apesar de ter perdido quase toda a família, a mulher continua a procurar força para seguir em frenteEsta manhã chamou-me a senhora Maria Toledo, de 82 anos, que vive num dos bairros periféricos de San Vicente (Colômbia) com o seu marido, de 92 anos, doente e acamado. Pede-me o favor de levar a comunhão e a santa unção ao marido. aproveito para lhe levar também alguns alimentos e outras coisitas, porque não têm nada, vivem da caridade. O governo passa-lhe um pequeno contributo, mas não têm nenhuma pensão. Vou com a catequista do bairro, Catalina Rojas. a senhora está à minha espera à porta de casa que não lhes pertence. Houve pessoas que lha deixaram a fim de que os dois velhinhos a guardem. Entramos. apesar de ser dia, o quarto é escuro e há um cheiro desagradável porque está tudo fechado e por falta de higiene. Depois da confissão celebramos o breve rito da comunhão e da unção dos enfermos. Depois a senhora Toledo começa a contar-nos a triste história da sua família. Sou de Florencia. O meu marido vem da região de Tolima. Vivemos muitos anos em Puerto asis (uma aldeia nas margens do rio Putumayo nos confins com o Equador). Tínhamos aí uma bela quinta e duas casas na aldeia. a guerrilha matou-nos sete filhos, um dos quais ainda menor, ao passo que o oitavo anda disperso. Uma das minhas filhas teve que fugir com uma amiga para o Equador. Pergunto-lhe: Porquê? Responde-me dizendo: Eu gosto de ter todas as fotografias da família na parede de casa e entre elas havia uma do meu filho, que é oficial do exército militar colombiano, a prestar serviço em Cali, muito longe de nós. Por causa daquela foto fomos acusados de ser paramilitares (uma espécie de contra-guerrilha). Maria Toledo continuava a contar aquela triste história e sustendo as lágrimas, prosseguiu: Se não fugíamos matavam-nos a todos e assim chegámos a San Vicente como deslocados’. até hoje foram passando de casa em casa e como já são muito idosos não podem trabalhar. Continua a narração: algum tempo atrás estiveram aqui oficiais militares que nos procuraram, mas parece-me que era tudo por interesses a nível militar, isto é, para apresentar elementos contra a guerrilha. Quando ouço estas histórias muito tristes, dou-me conta que não existe uma guerra justa. Todas as guerras têm as suas vítimas e a pagar é sempre a pobre gente que com humildade procura a força para ir em frente. Nesta senhora eu vi uma força extraordinária. É uma mulher com muita fé em Deus. Não tem medo de falar com advogados, militares, juízes, guerrilheiros: é uma mulher forte, segura de si e com tanta vontade de viver. Durante esta longa conversa propus-lhe a possibilidade de entrar para o asilo na associação do Bom Samaritano que a Igreja católica construiu para os idosos deste território. Olhou-me com os olhos arregalados, porque entrar neste lugar é visto de modo negativo, como se fosse a última praia. Maria Toledo diz-me: Vivo com ele (indicando o marido) há 50 anos, não é agora que o vou deixar. Respondo-lhe: Podeis ir juntos. Lá tendes de comer, fazem as limpezas, lavam a roupa. Fixa de novo o olhar sobre mim, faz-me um sorriso como a consentir. Vem-me à ideia uma outra bem-aventurança: Felizes os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.