Nenhum cristão tem o direito de se alhear da luta pela defesa dos mais fracos, exigindo para que os poderes públicos respeitem o ser humano. a Igreja, que somos todos nós, deve estar na primeira linha
Nenhum cristão tem o direito de se alhear da luta pela defesa dos mais fracos, exigindo para que os poderes públicos respeitem o ser humano. a Igreja, que somos todos nós, deve estar na primeira linha as últimas semanas foram férteis em acontecimentos que marcaram o presente, e possivelmente o futuro, da vida cívica em Portugal, nomeadamente a manifestação de contestação de 15 de setembro. Uma expressão pública de protesto contra o Governo, que deixou a Europa surpreendida, mas que revelou que os portugueses, mesmo quando protestam, conseguem ser civilizados. a comunicação social calculou que estiveram presentes cerca de um milhão de pessoas na totalidade das localidades em que aderiram, de um modo especial em Lisboa. Devemos lembrar que a convocação não foi da responsabilidade dos partidos políticos ou sindicatos, mas de um grupo de cidadãos, o que reflete a importância que a sociedade civil dá ao momento que atravessa. Esta semana que findou ontem ficou assinalada pela apresentação do Orçamento de Estado para 2013, documento que prevê fortes restrições com mais impostos que penalizam fortemente os rendimentos do trabalho, mais uma vez. a contestação a estas medidas foi generalizada, os economistas insistem que é preciso avançar noutros sentidos, principalmente nos cortes das despesas do Estado, nas parcerias público privadas, com ênfase nas rendas que o Estado paga. Claro que é importante atingir as metas traçadas para o cumprimento do memorando da troika, mas não tem que ser apenas à custa de quem trabalha. Esse documento também prevê as outras componentes estatais. Mas esta forma de agir tem uma explicação: aplicar impostos é mais fácil e rápido de que fazer as necessárias restruturações de fundo apontadas no acordo com a troika e que são imprescindíveis para o futuro. as comemorações do 5 de outubro (dia da República) tiveram um episódio burlesco. Na abertura oficial das mesmas, o Presidente da República içou a bandeira nacional, mas esta ficou hasteada ao contrário. Incidente sem grande importância, mas que alguns aproveitaram para dizer que o país está ao contrário; de pernas para o ar e outros mimos idênticos. O país ainda não chegou a isso, mas pelo caminho que leva pode fazer desesperar as pessoas e entrar por vias menos pacíficas. É isso que costuma acontecer quando o povo sente que está a ser enganado e pisado. Esperemos que tal não aconteça e que o Governo seja capaz de enveredar por um caminho mais justo para todos os portugueses. a sociedade portuguesa é composta por crentes e não crentes. Os cristãos sempre se distinguiram pelo seu idealismo, nem tanto pelo seu exemplo. O tempo é de ação e não de ideais distorcidos da realidade. Está na hora da Igreja mostrar que está atenta e que a sua missão é propiciar ao ser humano o caminho da salvação pela via do amor, mas no Mundo em que vivemos. Também a Igreja precisa de mudanças estruturais, possivelmente menos catequese e mais prática social, maior preocupação em dar testemunho pelo seu exemplo, a começar por aqueles que têm responsabilidades na condução do povo cristão. Cada vez é mais necessário que bispos e sacerdotes estejam mais perto do povo, ou mais concretamente: com o povo. Na sociedade de consumo que temos não é fácil apelar para que se façam sacríficos, mas tal é necessário e isso deve ser patente nos homens da Igreja, sejam consagrados ou não. as pessoas precisam de sentir a presença de Cristo através dos seus mensageiros e a sua pregação tem que ser de coração a coração, não esquecendo os seus votos de pobreza. a forma como é gerida a economia coletiva ou individual dos homens de Deus poderá ter que ser revista, abolidos alguns procedimentos e conceitos que não tenham a ver com a humildade, a caridade e sobretudo com o bom exemplo.